Título: Relatório da oposição também ignora dossiê
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 29/05/2008, O Globo, p. 10

A exemplo da CPI que acabou em pizza, investigação paralela não cita Dilma e não sugere indiciamento de ninguém

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Para surpresa dos próprios colegas de oposição, o relatório parcial apresentado ontem na CPI do Cartão Corporativo pelos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Índio da Costa (DEM-RJ) mencionou superficialmente a elaboração do dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, nem sequer citou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ou de sua secretária-executiva, Erenice Guerra, e nem sugeriu o indiciamento de ninguém. A única novidade do texto foi a revelação de que Fábio Luiz Lula da Silva, filho do presidente Lula, teve despesa de R$112,11 na contratação dos serviços de internet da Universo Online, paga em 2 de setembro de 2003, listada entre os gastos da Casa Civil.

Ao concluir a leitura da primeira parte de seu relatório, o deputado Carlos Sampaio acabou reforçando os argumentos do governo, que todo o tempo negou o envolvimento de Dilma e Erenice no episódio do dossiê, ao declarar que, por enquanto, só se pode assegurar que uma pessoa cometeu ilícito: José Aparecido Nunes Pires, o ex-secretário de Controle Interno da Casa Civil, que vazou o material.

"Cúmplice da pizza com os subpizzaiolos"

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que não participou da reunião da CPI - aliás, só três parlamentares, além do presidente, relator e sub-relatores compareceram - reagiu indignado ao relatório dos colegas de oposição:

- A oposição colecionou equívocos desde o início, quando ficou visível que a CPI seria uma farsa. Agora, assume a posição de cúmplice da pizza com os subpizzaiolos.

O texto de Sampaio agradou tanto os governistas que alguns sugerem que ele seja incorporado integralmente no relatório final que o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) apresentará terça-feira.

- Quero parabenizar o deputado Carlos Sampaio pelo seu trabalho. Está comprovado que o dossiê nunca existiu - comemorou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos líderes do partido na CPI.

Ao citar exemplos de mau uso e desperdício do dinheiro público com despesas não emergenciais ou em proveito pessoal, o deputado Índio da Costa questionou a Casa Civil por estar cobrindo gastos do filho do presidente: "Fica a pergunta: por que razão e com que direito os impostos pagos pelos contribuintes servem para custear despesas da família do presidente, despesas de terceiros que não possuem qualquer vínculo formal como administração pública?" O Palácio do Planalto preferiu não comentar a despesa.

O relatório também revelou o caso de um ecônomo da Fundação Universidade de Brasília (FUB), José Curcino de Morais Sobrinho, que pagou com seu cartão corporativo, em 11 de outubro de 2004, uma despesa de R$100 num motel em Brasília. A UnB alegou que não teria como responder à denúncia divulgada ontem pela CPI.

"Se fizéssemos diferente, seria um panfleto"

Além dessas duas novidades, o relatório dos dois parlamentares de oposição limitou-se a solicitar a investigação, por parte do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério Público, das contas dos ministros Altemir Gregolim (Pesca) e Orlando Silva (Esportes), do presidente do Incra, Roff Hackbart, e dos ex-ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e Matilde Ribeiro (Igualdade Racial).

Foi sugerida também a apuração das suspeitas de irregularidade nos gastos registrados em 452 estabelecimentos que têm sócios que são ou foram servidores públicos. No fim da sessão, Índio da Costa ainda tentou justificar o texto ameno do relatório, argumentando que havia produzido uma peça jurídica:

- Se fizéssemos diferente, seria um panfleto. Disposição de bater no governo, eu tenho bastante; outra coisa é agir com irresponsabilidade.

Caso Luiz Sérgio não incorpore o relatório em seu texto, os oposicionistas ainda vão tentar apresentar um voto em separado para marcar posição.