Título: O homem por trás das grandes marcas do país
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 01/06/2008, Economia, p. 38
Seu Júnior, da Hypermarcas, é dono de um patrimônio de US$1 bi e detém Atroveran, Etti, Assolan e Zero-Cal
Você nem imagina mas certamente já comprou vários produtos do Seu Júnior, ou João Alves de Queiroz Filho, um goiano de 55 anos, dono de algumas das marcas mais consumidas no país: da lã de aço Assolan ao calmante Maracugina, passando pelo Merthiolate aos hidratantes Monange e ao adoçante Zero-Cal. O segredo desse império, avaliado em R$2,5 bilhões, tem nome: chama-se Hypermarcas, empresa que começou com a distribuidora de sal Cometa, fundada pelo pai de Júnior em 1969. Da distribuidora, nasceria a Arisco, cuja receita do tempero (à base de sal, pimenta-do-reino, alho e cebolinha) foi dada à família Queiroz em pagamento de uma dívida nos anos 1970.
Mas é Júnior o responsável por transformar a fabricante de tempero numa marca que despertou o interesse da Best Foods ¿ então dona das Refinações de Milho Brasil e incorporada à Unilever ¿, que a comprou em 2000 por US$490 milhões. Ao tempero foram acrescentados investimentos em mídia, com Xuxa e Rubens Barrichello como garotos-propaganda .
Boas relações políticas são parte do segredo do negócio
Em abril, o alcançou seu apogeu ao colocar no mercado R$608 milhões em ações da Hypermarcas, holding de 55 marcas de produtos de consumo de massa, com foco nas classes C, D e E. Desde o lançamento das ações, no dia 18 daquele mês, os papéis da empresa tiveram valorização de 29,35%. Júnior tem 47% do capital total da companhia, cerca de US$1 bilhão.
No portfólio de marcas estão algumas conhecidas dos brasileiros, como Atroveran, Biotônico Fontoura, Doril, Etti e Zero-Cal. Embora tenha investido em negócios em São Paulo, foi mesmo em Goiás que a Arisco encontrou seu espaço, com a concessão de incentivos fiscais. As boas relações políticas de Júnior, segundo pessoas próximas à empresa, também são parte do segredo do negócio.
Com a venda da Arisco para a Best Foods, a grande expectativa no mercado era saber qual seria a nova empreitada de Júnior. Em 2002, ela ficou clara, com a recompra da Prátika Industrial, dona da até então desconhecida Assolan que pertencia à Arisco e havia passado ao arsenal da Unilever. Foi aí que o império começou a ser reconstruído. Hoje, estima-se que a Assolan tenha 30% do segmento que já foi hegemonia da Bombril. A estratégia de mídia para a Assolan não foi diferente da usada para a Arisco. Faustão, Gugu Liberato e Hebe Camargo foram alguns dos nomes ligados à marca.
E Júnior não parou por aí. Em 2007, comprou a DM Farmacêutica, por cerca de US$750 milhões, operação que resultou na atual expressiva atuação no segmento de medicamentos OTC (over the counter, ou ¿sobre a bancada¿, isentos de prescrição médica).
Na opinião do consultor de varejo Marcelo Cherto, Seu Júnior é um sujeito ousado:
¿ Ele tem uma postura superagressiva, não tem medo de enfrentar as multinacionais, sempre com agilidade e rapidez. Não é um negócio para amador ¿ afirma.
A diversificada carteira de negócios inclui ainda o segmento de mídia ¿ no qual detém o grupo de rádio e TV goiano Serra Dourada. Recentemente, comprou quatro retransmissoras do SBT no Paraná ¿ e de construção civil, por meio da incorporadora de imóveis Bramex, em sociedade com três ex-banqueiros mexicanos (Esteban Malpica, Alfredo Harp Helu e Roberto Ramirez), que também são sócios na Hypermarcas.
Para o professor Eduardo Terra, do Programa de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA-USP), o segredo de Seu Júnior é vender o mix dos supermercados, o que barateia a distribuição e o aproxima das multinacionais Unilever e Procter & Gamble.
Apesar do sucesso, Júnior deixa o estrelato para suas marcas, como a esponja que dança e canta nas propagandas. Ele não dá entrevistas nem tira fotos. Não foi sequer ao evento de estréia das ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Prefere o anonimato da presidência do Conselho de Administração da holding de marcas, cargo que exerce ao lado de seus homens de confiança desde os tempos da Arisco, Claudio Bergamo (diretor-superintendente) e Nelson José de Mello (diretor-presidente).
Empresa quer ser a `Unilever brasileira¿
Na vida pessoal, Júnior gosta de aproveitar o fruto de seu trabalho. Tem casa na Praia de Tabatinga, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, onde passeia com a lancha Saint Barth, em homenagem à glamourosa ilha do Caribe. Mas seu hobby favorito é viajar de moto com os amigos. Mesmo assim, é considerado uma pessoa simples por quem o conhece.
O professor da área de varejo Claudio Goldberg, da Fundação Getulio Vargas, avalia a história de Seu Júnior como a de um empresário com postura agressiva, para oferecer produtos similares aos de grandes marcas por preços mais baixos. Para ele, há dois caminhos para as marcas obtidas por Júnior: fazê-las crescer para depois vendê-las, como fez com a Arisco, ou fortalecer o nome Hypermarcas, como tem feito a Unilever, dona de Omo, Kibon, Hellmann¿s, entre outras. Como o objetivo de Júnior é ser a ¿Unilever brasileira¿, parece que a escolha já está feita. Mesmo os produtos de marcas adquiridas já começam a exibir o nome Hypermarcas nas embalagens.