Título: Em média, 12 abandonos por dia
Autor: Berta, Ruben
Fonte: O Globo, 01/06/2008, Rio, p. 22

Depois de um início de ano letivo marcado pela falta de professores ¿ fato primordial para a saída do ex-secretário Nelson Maculan ¿, a secretária Tereza Porto já convocou 6.667 novos docentes para tapar os buracos nas salas de aula. Mas a quantidade daqueles que deixam definitivamente a rede também é grande. Este ano, de janeiro a abril, foram 1.339 servidores, média de 12 por dia. As aposentadorias lideram, com 921 registros.

¿ É impressionante ver que ainda há muitos fazendo um bom trabalho apesar do quadro atual. No estado, os governos se sucedem parecendo surdos em relação aos problemas da educação pública. Como sobreviver com o salário tão defasado, tão desproporcional? ¿ questiona a presidente da União dos Professores Públicos no Estado (Uppe Sindicato), Terezinha Machado da Silva.

De acordo com o sindicato, a defasagem salarial acontece nos próprios quadros do estado. Segundo a Uppe, um professor em início de carreira da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), órgão subordinado à Secretaria de Ciência e Tecnologia, ganha quase o dobro do docente subordinado à Secretaria de Educação. No primeiro caso, o piso é de R$842,40. No segundo, é de R$448,24.

Os baixos salários podem estar por trás da saída voluntária de muitos professores da rede estadual. Segundo a Uppe, no ano passado, foram registrados 560 pedidos de exonerações de docentes, média de 47 por mês. O professor de história Tarcísio Motta de Carvalho, de 33 anos, começou a trabalhar no estado em 1999. Em 2005, passou no concurso para o Colégio Pedro II e não pensou duas vezes na hora de sair. Atualmente, ele também tem uma matrícula na rede municipal de Duque de Caxias, na Baixada.

¿ No estado, ganhava R$740 por mês por 16 horas semanais. No Pedro II, são R$2.300 por 40 horas. Uma diferença fundamental é que dessas 40 horas, 22 são reservadas para a preparação fora de sala de aula. No estado, das 16, só quatro eram fora. Isso faz diferença na qualidade ¿ afirma Tarcísio.

Mesmo morando em Laranjeiras, o professor largou a escola estadual em que lecionava no Leblon e agora divide as atenções entre a unidade do Pedro II do Centro e a escola municipal de Caxias.

¿ Na rede estadual, há um círculo vicioso: os profissionais não se sentem valorizados, isso se reflete na sala de aula e no aluno. No Pedro II, há um círculo virtuoso ¿ comenta Tarcísio.