Título: Estado tem mais de 5 mil professores doentes
Autor: Berta, Ruben
Fonte: O Globo, 01/06/2008, Rio, p. 22

Número corresponde a 6,5% do total de servidores da Educação; em abril, houve quase 17 mil faltas

Licenciado há cerca de um mês por distúrbios psiquiátricos, o professor de matemática e física Lázaro Venceslau dos Santos, de 63 anos, não sabe se terá coragem de voltar para uma sala de aula. Há 23 anos no magistério, ele é só mais um retrato de números que impressionam: de janeiro a abril deste ano, a rede estadual de ensino registrou uma média mensal de 5.639 profissionais de educação afastados por problemas de saúde, o equivalente a 6,5% do total de servidores.

¿ É muita decepção com a carreira. A cada dia, fica mais difícil conseguir pagar as contas. Na sala de aula, às vezes tenho a sensação de que não existo, tamanho é o desinteresse dos alunos. Meu trabalho parece inútil, desacreditei da educação ¿ decreta Lázaro.

Estado vai terceirizar perícia médica

Os números de afastamentos por licença médica não são os únicos a compor o quadro nada animador dos professores da rede pública estadual, responsáveis, por exemplo, pela formação de 83,1% dos alunos de ensino médio fluminenses. Dados fornecidos pela Secretaria de Educação mostram que, em abril, foram registradas 16.918 faltas de docentes. Destas, 4.128 foram sem justificativa. As outras 12.790 foram abonadas já que foram decorrência de problemas de saúde.

¿ Até o fim do mês que vem, iremos terceirizar o nosso serviço de perícia médica. Queremos ter um retrato detalhado do que está acontecendo, dos principais problemas que estão afastando os professores das salas de aula, para que possamos desenvolver um programa de saúde específico para os docentes. Paralelamente, estamos estudando mecanismos para um acompanhamento melhor das faltas ¿ adianta o subsecretário estadual de Planejamento de Educação, Rafael Martinez.

Demanda é preenchida com mais carga horária

A professora do Departamento de Educação da PUC-Rio Isabel Lélis concluiu recentemente uma pesquisa, com o apoio do CNPq, sobre a profissão do professor na rede pública. Ela confirma que o clima entre os docentes das escolas estaduais é de abandono:

¿ Sem o aparato de uma política educacional e com as famílias cada vez mais distantes, sem acompanhar os alunos, cria-se no professor uma sensação de isolamento, de solidão. É equivocado pensar que os docentes não querem se aperfeiçoar. Com as condições atuais, eles não podem.

Com a alta rotatividade, o estado tem sido obrigado a apelar para a ampliação da carga horária dos professores da rede. Atualmente, 19,5% da demanda é preenchida dessa forma. Para a coordenadora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) Beatriz Lugão, a estratégia tem sérias conseqüências pedagógicas:

¿ É preciso um quadro de professores fixo. Na troca constante, não há como ter continuidade ao trabalho pedagógico.

Presidente da Comissão de Educação da Alerj, o deputado Comte Bittencourt (PPS) tem um discurso semelhante:

¿ Foi um avanço do atual governo ter feito um concurso no ano passado. Se essa não for uma rotina, não há como haver uma consistência pedagógica.

Ex-secretário estadual de Educação e membro da Academia Brasileira de Letras, Arnaldo Niskier acredita que é preciso pelo menos um concurso a cada dois anos, mas admite que os salários estão longe de ser um atrativo:

¿ É preciso muita vocação e muita propensão ao sacrifício com remuneração tão incompatível com o mínimo.