Título: China busca solução em tragédia do passado
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 01/06/2008, O Mundo, p. 43

Governo quer aprender com Tangshan, cidade onde terremoto matou 250 mil em 1976 e que hoje prospera

TANGSHAN, China. Enquanto cuida de cinco milhões de desabrigados, desloca dezenas de milhares para locais seguros e luta para evitar que lagos formados por deslizamentos sobre os rios de Sichuan transbordem, inundando uma região já devastada pelo terremoto de 12 de maio, o governo da China já se prepara para a enorme tarefa de reconstruir o lugar. Para isso, vai contar com a ajuda de Tangshan, a única cidade chinesa que teve uma experiência ainda mais traumática com terremotos ¿ em 1976 ¿ e não à toa é conhecida entre os chineses como ¿Cidade Fênix¿, a que renasceu das cinzas.

Após reunião semana passada com a cúpula do Conselho de Estado que cuida das operações de ajuda às vítimas do terremoto, o premier chinês, Wen Jiabao, determinou que os trabalhos comecem a ser focados no reassentamento dos deslocados e na reconstrução da região destruída pelos tremores.

A pedido do Comitê Central do Partido Comunista da China e do Conselho de Estado, o governo de Tangshan elaborou um resumo sobre os procedimentos adotados há mais de 30 anos para reconstruir aquela que foi ¿ e voltou a ser ¿ um dos pólos industriais da China.

¿ O mais importante é elaborar um plano condutor onde fique bem claro como serão tratadas as principais atividades urbanas, como moradia, comércio, indústria, saúde e educação. Há 30 anos, não tínhamos tantos recursos, a China era pobre e levamos duas décadas para fazer de Tangshan, novamente, uma cidade completa. Hoje, com mais recursos, esta tarefa deve ser mais fácil e rápida ¿ diz Chen Guoying, prefeito da municipalidade de Tangshan, região com 7,1 milhões de habitantes e PIB de US$40 bilhões.

Indústrias de risco ao meio ambiente serão deslocadas

No projeto apresentado, as pequenas vilas e lugarejos espalhados pela região de Sichuan afetada pelo terremoto tendem a ser aglutinadas em cidades médias, que vão sediar indústria e comércio de acordo com antigas vocações e história. Famílias de locais quase totalmente destruídos, como Beichuan ou Dujiangyan, vão morar em áreas mais estáveis, assim como indústrias que ofereçam risco ao meio ambiente serão deslocadas, como as petroquímicas de Shifang.

¿ Pelo risco e instabilidade do terreno, algumas vilas podem ser totalmente abandonadas porque não se prestarão a atividade alguma ¿ diz Chen.

O reassentamento será feito com a ajuda de recursos públicos e através de benefícios fiscais a projetos de industrialização específicos, como ocorreu com a própria Tangshan. Fala-se numa uma zona de produção de cimento e em outra para industrialização de produtos alimentícios, além do turismo.

Quando o terremoto de 7,8 graus atingiu Tangshan em 28 de julho de 1976, pegou os moradores dormindo em casa, o que fez o número de mortos chegar a 250 mil, com 164 mil feridos. Ao contrário do terremoto atual, em que o governo chinês deu grande transparência à cobertura da tragédia, o tremor em Tangshan foi mantido quase em segredo, numa época em que Mao Tsé-tung estava bem próximo de morrer e a Revolução Cultural chegava ao fim.