Título: Revoltas vão se espalhar
Autor:
Fonte: O Globo, 29/05/2008, Economia, p. 25
O especialista em segurança mundial Michael Klare, da Hampshire College, diz que os protestos vão se multiplicar, mas avalia que a alta do preço do petróleo tem um lado bom: freará o consumo.
Danielle Nogueira
Quais as semelhanças e as diferenças entre as ondas de protestos contra a alta dos preços dos alimentos e do petróleo?
MICHAEL KLARE: Inicialmente, os protestos contra a alta do petróleo tendem a ser concentrados em setores diretamente afetados pelo custo de transporte, como pequenos empresários, caminhoneiros e pescadores. É algo mais localizado, mas que atinge países ricos e pobres. No caso dos alimentos, os protestos se concentraram em países pobres. Mas, se os governos cortarem ou eliminarem os subsídios ao setor energético, a tendência é que protestos e revoltas que hoje são setoriais se espalhem. Veja o caso da Indonésia (onde os protestos são liderados por universitários).
E quanto às causas?
KLARE: Em ambos os casos há um aumento de demanda e um componente especulativo, que pressionam o preço. No caso do petróleo, o aumento da demanda, impulsionado principalmente pela China, vem acompanhado de uma redução do ritmo da produção de importantes produtores, como México e Rússia. Além disso, há instabilidade política em países-chave, como Iraque e Nigéria, que levam o preço ainda mais para cima.
É possível que o barril de petróleo alcance US$200 este ano, como prevêem alguns analistas?
KLARE: É uma previsão realista, se as condições globais continuarem a se deteriorar. Ou seja, se a violência na Nigéria persistir e se o ritmo de aumento de produção se mantiver lento.
Como reduzir a dependência do petróleo?
KLARE: Não será fácil, pois 97% da energia usada no transporte mundial vêm do petróleo. O etanol é uma alternativa, como faz o Brasil, mas a curto prazo a solução é a conservação energética. As pessoas têm de usar mais transporte público e menos o ar-condicionado, algo que os americanos vêm fazendo por causa do alto preço da energia e dos combustíveis. Logo, a alta do petróleo também tem seu lado bom, pois vai frear o consumo.