Título: Brasil pode derrubar preços de commodities
Autor: Rosa, Bruno ; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 29/05/2008, O Globo, p. 27

FÓRUM NACIONAL

Economistas destacam importância da tecnologia para que país avance e se beneficie de crescimento chinês

Bruno Rosa e Cássia Almeida

Depois de a China ter derrubado o preço dos produtos manufaturados mundo afora, o Brasil pode ter um papel fundamental no recuo do valor das commodities agrícolas e dos recursos energéticos renováveis. Para Antonio Barros de Castro, assessor especial da Presidência do BNDES, que participou ontem do XX Fórum Nacional, o processo se dará a médio e longo prazos. Além de o país ter abundância de solo, minério e petróleo, o investimento em tecnologia será essencial para "fechar esse ciclo".

- Esse movimento não vai acontecer a curto prazo, pois existe um desequilíbrio entre oferta e demanda. A produção brasileira vai crescer, mas não dará conta, pois há 2,5 bilhões de pessoas entrando no mercado consumidor. Com o aperfeiçoamento da tecnologia, é possível atender a essa demanda. Uma das principais empresas de software do país cresceu desenvolvendo sistemas (de eficiência) para as usinas. Se o país difundir essa tecnologia para os emergentes, vai complementar o que a China fez - diz Castro.

O economista afirma que a China está introduzindo novas propriedades industriais no mundo, com o desenvolvimento de tecnologia de ponta. Para Castro, o avanço das empresas chinesas híbridas - os chamados "dragõezinhos", com participação estatal, privada e estrangeira - a partir da venda de produtos baratos e com tecnologia de ponta, tem forçado companhias a se adaptarem ao modelo, inclusive no Brasil, cujas empresas vêm exportando cada vez mais para a China:

- A indústria brasileira está numa fase afirmativa. A Petrobras já detém 9% da formação bruta de capital fixo do Brasil.

O economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, fez referência a "três cabeças do dragão chinês", destacando que o Brasil pode se beneficiar de duas delas: "a que devora vorazmente quantidades antes inimagináveis de energia, matérias-primas industriais e, cada vez mais, commodities agrícolas". O país, porém, pode perder espaço com a "terceira cabeça do dragão":

- A China vem avançando na sofisticação industrial, em bens de consumo de maior valor (eletrônica) e bens de capital (equipamentos). O upgrade na produção requer máquinas mais sofisticadas, e o Brasil participa pouco dessa festa.

Para Velloso, criatividade é necessária para crescer

A presença da China na economia brasileira foi ressaltada pelo ministro interino do Desenvolvimento, Ivan Ramalho. Segundo ele, o país já é o segundo maior fornecedor de produtos para o Brasil, desbancando a Argentina.

Durante o fórum, os empresários brasileiros defenderam a importância da internacionalização para crescer. O presidente da Vale, Roger Agnelli, disse que é fundamental olhar a Ásia:

-- Está na hora de todos pensarem que a competição poderá vir também do outro lado do mundo.

Para Emilio Odebrecht, o câmbio está favorecendo investimentos. Além disso, no exterior, é possível ter acesso ao mercado internacional de capitais:

- Se o câmbio está desfavorável para as vendas, está bom para as compras. E este é um caminho para sinergias.

Segundo João Paulo dos Reis Velloso, organizador do XX Fórum Nacional, para tornar o Brasil o melhor entre os Brics (grupo que reúne ainda Rússia, Índia e China), é necessário usar o conhecimento como arma competitiva e fonte de criatividade.

- Deve haver criatividade nas empresas, nos trabalhadores e no governo. Só assim há avanço tecnológico. O mais importante é que isso chegue na baixa renda.

COLABORARAM Erica Ribeiro e Ramona Ordoñez