Título: Argentina corta fornecimento de gás a empresas
Autor: Figueiredo, Janaína ; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 29/05/2008, O Globo, p. 27

No Fórum Nacional, especialista alerta que situação do país vizinho é grave e afeta o Brasil

Janaína Figueiredo* e Cássia Almeida

BUENOS AIRES e RIO. O governo argentino reduziu esta semana o fornecimento de gás a cerca de 300 empresas do país. A medida não foi confirmada oficialmente, mas, segundo a imprensa local, a decisão partiu do ministro do Planejamento, Julio de Vido, braço-direito da presidente Cristina Kirchner e do ex-presidente Néstor Kirchner. A escassez de energia é uma das principais preocupações da Casa Rosada.

Durante a inauguração de uma turbina elétrica em Buenos Aires, o ministro admitiu as dificuldades:

- Pode ser que tenhamos algumas restrições, mas vamos cobri-las com combustíveis líquidos.

O problema energético se agravou em conseqüência de uma onda de frio polar que chegou esta semana à capital argentina e à greve dos trabalhadores de empresas produtoras de gás e petróleo localizadas em Santa Cruz, na Patagônia. A província, governada durante 11 anos por Kirchner, fornece 10% do total da energia consumida pelo país.

Economista diz que crise argentina é subestimada

Em sintonia com outros setores, o sindicato de trabalhadores do setor energético de Santa Cruz exige um reajuste salarial em torno de 40%. Esta semana, a União de Trabalhadores Metalúrgicos selou um acordo salarial com as empresas do setor com o mesmo percentual. O governo insiste em defender as estatísticas do Indec (o IBGE argentino), mas setores da economia argentina estão demandando reajustes superiores à inflação oficial. Em 2007, o Indec calculou uma inflação de 8,5%, e as consultorias privadas, uma taxa superior a 20%.

O corte de gás aplicado ao setor industrial é parcial e não tem prazo para acabar. As empresas afetadas pagam tarifas mais baixas e têm contratos que permitem às autoridades reduzir o fornecimento de energia, se for necessário. A escassez de energia afetou até mesmo as exportações de gás para o Chile. Anteontem, o ministro de Energia do chileno, Marcelo Tokman, assegurou que nos últimos dias a Argentina limitou a 500 mil metros cúbicos os envios de gás para o Chile.

No Rio, no Fórum Nacional, o economista José Roberto Mendonça de Barros disse que a situação da Argentina é grave e a crise será maior do que se prevê. Segundo ele, a inflação real entre 25% e 30% vai acabar atingindo o mercado de trabalho, provocando uma demanda por reajustes salariais, reproduzindo uma espiral de preços e salários:

- Quem investiu na Argentina pensando em exportar está perdendo dinheiro. A situação está desandando, uma crise muito forte sem nenhuma solução.

Sobre os efeitos no Brasil, o economista cita a pressão sobre os preços, como já ocorre com o trigo, e os efeitos nas exportações brasileiras para o país.

(*) Correspondente

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 29/05/2008 04:47