Título: Grupo protegia até crime ambiental
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 02/06/2008, Rio, p. 12
Policial usa nome de Álvaro Lins para impedir investigação sobre desmatamento em fazenda
A quadrilha montada na cúpula da Polícia Civil, durante seis anos, mudava, segundo a Polícia Federal (PF), o rumo de investigações para beneficiar supostos aliados, em 2006, do candidato a deputado estadual Álvaro Lins. Para isso, o escolhido a resolver as eventuais "pendências" para o grupo era o delegado Daniel Goulart, lotado, na época, no gabinete do então chefe de Polícia Civil, Ricardo Hallak. Numa das interceptações telefônicas feitas pela PF, Goulart consegue impedir o andamento de um inquérito de crime ambiental na fazenda do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado José Nader, em Casimiro de Abreu.
O pedido foi feito a Goulart, em 4 de outubro de 2006, pelo inspetor Mário Franklin Mustrange, o Marinho, secretário e tesoureiro de campanha de Lins. Marinho pede que o delegado telefone para o titular da 121ª DP (Casimiro de Abreu), Jardiel Melo: "Parece que ele invadiu a fazenda. Apreendeu máquina, prendeu funcionário. Não sei o que aconteceu, entendeu? Meio complicado, aonde ele (Jardiel Melo) vai ele arrumas problema pro chefe", comenta Marinho. O chefe seria Lins.
Marinho explica que Lins não gosta de "pedir essas coisas pelo rádio dele". Demonstrando, segundo a PF, os cuidados de Lins nos casos de corrupção. O primeiro telefonema foi às 18h04m. Nove minutos após, Goulart liga para Marinho com a resposta: "o problema começou ao meio-dia quando a equipe do Batalhão Florestal descobriu o desmatamento de uma grande área da fazenda", que também pertence ao filho de José Nader, a quem Marinho e Goulart chamam de "Rubão". O local teria sido devastado para a plantação de palmito. Um trator que abria espaço na área de proteção apreendido e o motorista preso. Todos tinham sido levados à 121ª DP.
Em resposta a Marinho, Goulart avisa que já conversara com o delegado Jardiel Melo e que o funcionário da fazenda prestaria depoimento em outra ocasião: "Vai ouvir depois o cara. E... aí, a gente, a gente resolve", afirma Goulart. Marinho pede que ele avise o subchefe de Polícia Civil, o delegado José Renato Torres do Nascimento, que ficaria responsável por explicar a situação a Nader. Procurados para falar sobre a denúncia, José Nader e os delegados José Renato Torres e Jardiel Melo não foram encontrados.