Título: Devastação em ritmo acelerado
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 03/06/2008, O País, p. 3
Em abril, Amazônia perdeu área equivalente à da cidade do Rio; MT tem maior desmatamento
Soraya Aggege
Odesmatamento da Amazônia voltou a crescer em ritmo acelerado. Em abril, foram desmatados pelo menos 1.123 km², área equivalente à da cidade do Rio de Janeiro, segundo divulgou ontem o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base no Deter, sistema que só mostra grandes áreas de desflorestamento. Em março, o desmatamento havia sido de apenas 145 km², mas 78% das áreas de floresta estavam encobertas por nuvens (em abril, a área coberta por nuvens era menor, de 53%, e os satélites puderam detectar devastação bem maior). Mas, proporcionalmente, o aumento da área desmatada foi bem maior do que a melhora na visibilidade da região.
O estado que mais derrubou a floresta foi Mato Grosso: 794,1 km², ou aproximadamente 70,8% do total apurado pelo Inpe. Mas o ranking ainda não incluiu outras regiões de avanço das fronteiras agrícolas, como o Pará, encoberto de nuvens que impedem o registro dos satélites. Em abril, o Pará estava com 89% do território encoberto e Mato Grosso, com apenas 14%.
Para o Inpe, o balanço de abril comprova o crescimento da devastação: em 12 meses, entre agosto de 2006 e agosto de 2007, o mesmo sistema Deter mostrou 4.974 km² de desmatamento. No entanto, no período de nove meses entre agosto e abril de 2008 já foram registrados 5.850 km² de desmatamento. O Deter capta, geralmente, cerca de metade do que geralmente é mostrado pelo outro sistema, o Prodes, que é mais detalhado, mas só é feito anualmente. O próximo Prodes será divulgado em dezembro.
- A situação é muito preocupante. Com os dados que temos, afirmamos com certeza que há um crescimento claro do desmatamento da Amazônia. O processo de devastação é mais intenso do que imaginávamos - disse o diretor do Inpe, Gilberto Câmara.
Reservas são pontos de resistência verde
Para se ter uma idéia do que está acontecendo na floresta, o Inpe fez um cálculo aproximado, baseado nos últimos 20 anos de monitoramento na Amazônia Legal: a cada dez segundos, desmata-se uma área equivalente a um campo de futebol. A Floresta Amazônica somava 4 milhões de km². Um total de 700 mil km² já foram derrubados. Destes, mais de metade (360 km²) foram desmatados desde 1988, quando o Inpe passou a monitorar a Amazônia.
O recorde de desmatamento em Mato Grosso não pode ser considerado definitivo. De acordo com o Inpe, em abril o estado apresentou menos nuvens no céu, o que facilitou a cobertura dos satélites. Mas nos 14% que estavam encobertos podem ter ocorrido mais desmatamentos. Sem falar nas áreas menores que 25 hectares, já que o Deter só capta as maiores devastações. Por outro lado, estados que costumeiramente têm altos índices de desmatamento, como o Pará, não foram analisados.
- Podemos ter surpresas muito piores nos próximos meses - avalia o coordenador do programa de Amazônia no Inpe, João Vianei.
O segundo estado que mais desmatou em abril, pelos dados parciais do Deter, foi Roraima: 294,8 km². Nuvens cobriam só 18% do estado. Já em Rondônia, o registro foi de 34,6 km², com taxa de cobertura de 95% (5% de nuvens). Mas não há o que comemorar:
- O fato é que Rondônia não tem mais áreas a serem desmatadas. O que sobrou é formado por reservas legais e indígenas. As indígenas ainda não foram atingidas, mas nas demais o processo é diferente - disse Câmara.
Os desmatamentos já cercam áreas como o Xingu:
- Notamos que as áreas indígenas e outras reservas legais é que estão contendo o desmatamento mais generalizado ao redor - disse Câmara, explicando que elas formam uma espécie de bolsão verde em meio a grandes áreas de desmate.
O estado que menos tem desmatado é o Amazonas, onde foi registrado corte de 8,4 km².