Título: O mundo de cabeça para baixo
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 03/06/2008, O Globo, p. 23

Por um tempo, o mundo estava plano. Agora, está de cabeça para baixo.

Para entender isso, inverta seu raciocínio. Veja o mundo desenvolvido como dependente do mundo em desenvolvimento. Entenda que dois terços do crescimento da economia mundial vieram de países emergentes, cujas economias vão se expandir cerca de 6,7% em 2008, contra avanço de 1,3% previsto para EUA, Japão e zona do euro.

O brusco aumento nos preços de energia, commodities, metais e minerais produzidos principalmente nos países em desenvolvimento explica parte da mudança. Isso criou os excedentes de dólares no balanço de pagamentos dos fundos soberanos de país da região do Golfo e no Leste da Ásia. Eles se divertem comprando uma fatia da BP aqui, um naco do Morgan Stanley acolá.

Nós, da espécie do mundo desenvolvido paleolítico, nos tornamos presas para os novos ricos, nosso papel de predador se exauriu.

Para colocar essa inversão em foco, ajuda estar no Brasil, onde o otimismo econômico, tão exuberante quanto a vegetação, aumenta no mesmo ritmo das execuções hipotecárias nos EUA.

Descoberta de grandes campos de petróleo, boom do etanol, vastas reservas de terras agricultáveis, riqueza mineral e água doce abundante contribuem para a bonança brasileira. Mas recursos naturais são apenas parte da história. O mercado interno está impulsionando o crescimento, e a sofisticação corporativa está crescendo.

A Petrobras, que levou o Brasil à auto-suficiência em petróleo, vai mais que dobrar sua produção, para 4,2 milhões de barris em 2015. E a Vale, como muitas empresas de países emergentes, vive uma farra de aquisições. É uma nova gigante das Nações Recém-Compradoras (NAN, na sigla em inglês).

ROGER COHEN é colunista do "New York Times"