Título: Governo planeja reajuste para Bolsa Família
Autor: Berlinck, Deborah; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 04/06/2008, O País, p. 11

Ministro Patrus Ananias anuncia que estudo para correção do benefício será entregue esta semana a Lula

ROMA e BRASÍLIA. Em ano de eleição municipal, o governo federal se prepara para reajustar o valor do benefício do programa Bolsa Família. Ontem, em Roma, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, anunciou que sua Pasta está finalizando uma proposta de correção que será apresentada ainda esta semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Patrus, a alta no preço dos alimentos já teria corroído 6% dos 18% de reajuste dados aos beneficiários do Bolsa Família no ano passado.

O ministro afirmou que caberá a Lula decidir de quanto será o reajuste e quando isto será feito.

- Vou levar as informações ao presidente. Cabe a ele tomar a decisão -- disse Patrus, que acompanhou Lula num encontro de cúpula para discutir a alta dos alimentos no mundo.

Governo afirma que quer manter poder de compra

Patrus argumenta que o programa tirou 14 milhões de pessoas da extrema pobreza. O gasto mensal do programa é de R$870 milhões. Caso conceda reajuste de 6%, a despesa adicional seria de cerca de R$600 milhões a cada 12 meses. O Bolsa Família distribuiu renda mensal entre R$18 e R$172 para 11 milhões de famílias pobres no Brasil. Segundo o ministro, "é um instrumento eficaz".

- Vamos considerar este impacto no sentido de garantir que a Bolsa Família mantenha o poder de compra e seja um instrumento eficaz para garantir às pessoas pobres o direito à alimentação - disse o ministro.

Segundo Patrus, dados consolidados de várias fontes, como a Fundação Getúlio Vargas, mostram que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) para alimentos ultrapassou o índice geral de preços. Patrus disse que sua equipe está trabalhando para fortalecer a agricultura familiar, coordenado com outros ministérios:

- Estamos investindo em capacitação profissional, políticas de geração de trabalho que possibilitem a emancipação das famílias atendidas.

Líder tucano diz que reajuste é eleitoreiro

A intenção do governo de reajustar os benefícios do Bolsa Família dividiu a oposição. O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), vê um viés eleitoreiro na pretensão.

- O poder aquisitivo caiu. Agora, o objetivo do governo é claramente eleitoreiro: muito da resistência em conceder recursos à saúde se deve ao fato de que o governo quer jogar o dinheiro no Bolsa Família.

Já o líder do DEM na Câmara, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), disse que a medida é necessária.

- É a demonstração de que a inflação está corroendo o poder de compra, principalmente dos mais pobres. acaba sendo necessário - disse ACM Neto.

Para ele, a medida não é eleitoreira:

- Poderia haver essa preocupação, desde que não houvesse a constatação óbvia de que o reajuste é necessário por conta da inflação.

O líder do PT na Câmara, deputado Maurício Rands (PE), elogiou a proposta do governo.

- O programa é reconhecido internacionalmente e, para que continue surtindo efeitos, é preciso reajustar o benefício - disse Rands.

* Correspondente