Título: Secretário poderá fazer limpeza na polícia
Autor: Goulart, Gustavo
Fonte: O Globo, 04/06/2008, Rio, p. 12

Beltrame diz que prisão dos culpados pelo crime contra jornalistas deverá ocorrer em breve

Ao falar sobre as investigações do caso de seqüestro e tortura de uma equipe do jornal "O Dia", o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse ontem que, se for necessário, fará uma limpeza na polícia. Sem querer dar detalhes das investigações, ele afirmou que já tem elementos suficientes para pedir a prisão dos autores e do mandante do crime:

- Estamos fazendo um trabalho para depurar a polícia. Uma vez que tivermos conhecimento efetivo de que esse tipo de barbaridade aconteceu, obviamente as coisas não vão ficar como estão. A limpeza é necessária em qualquer parte do poder público. Já foram postos 220 PMs na rua.

Carros da PM que estavam na favela são identificados

A prisão dos envolvidos no crime, segundo Beltrame, poderá acontecer em breve. A polícia conseguiu, por meio do GPS - sistema de rastreamento por satélite -, a identificação dos carros de polícia que circularam pela Favela do Batan, em Realengo, no dia do crime.

- As polícias Civil e Militar do Rio têm o dever de fazer esse trabalho e vão fazê-lo. Não adianta pedir ajuda externa enquanto o problema é doméstico - disse o secretário, referindo-se à ajuda oferecida pelo Ministério da Justiça.

Sobre a reportagem que a equipe de "O Dia" estava fazendo na Favela do Batan, ele considerou o trabalho "de risco".

- A polícia não usa técnicas de infiltração em temas e matérias que dizem respeito a tráfico e milícia. Particularmente, achamos temerário, achamos isso perigoso. Não consideramos adequado, pois expõe a vida do policial a risco.

À tarde, Beltrame esteve reunido por mais de uma hora com o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) e a deputada Marina Maggessi (PPS-RJ), presidente e vice-presidente da Comissão de Segurança da Câmara, para falar sobre o andamento das investigações do caso. Foram discutidas ainda, entre outros assuntos, a criação da uma vara criminal específica para julgar o crime organizado, uma proposta da Secretaria de Segurança, e a mudança da lei com a tipificação do crime de milícia.

- Tráfico não dá voto. Milícia dá voto e fecha toda uma região. Elas (as milícias) são como as Farc, que aterrorizam a região. Esse é um problema grave que ameaça não só a segurança, mas a democracia - disse Jungmann.

O deputado disse achar que o estado e a prefeitura colaborariam muito no combate às milícias se regulamentassem as vans.

Beltrame pretende reunir-se, nos próximos dias, com técnicos da Secretaria de Segurança e da Casa Civil do estado, para elaborar um projeto a ser apresentado ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio, propondo a criação da vara criminal especial para tratar das ações do crime organizado. Ontem, o presidente do Tribunal do Justiça, Murta Ribeiro, disse que tudo que for para aumentar a segurança da população será muito bem recebido pelo Judiciário. O TJ explicou que o projeto do governo será analisado pelo Órgão Especial e, se aprovado, será encaminhado à Assembléia Legislativa, para que a criação da nova vara se torne lei.