Título: Escutas revelam que Lins recebeu apoio de milicianos de Jacarepaguá
Autor: Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 04/06/2008, Rio, p. 13

Em telefonemas, assessor de deputado agenda visitas a favelas da região

Durante a campanha para deputado estadual, em 2006, o delegado Álvaro Lins recebeu o apoio de milicianos de Jacarepaguá para se eleger. Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização judicial, mostram um dos assessores de Lins, o inspetor Fábio Menezes Leão, o Fabinho, agendando, em conversa com líderes locais, a ida do delegado às comunidades da região. Uma delas é com o cabo da PM Jorsan Machado de Oliveira. Fabinho está preso, desde o ano passado, acusado de lavagem de dinheiro, e também foi denunciado pela Operação Segurança Pública S.A., na semana passada, por formação de quadrilha armada, corrupção ativa e facilitação.

Em um dos telefonemas, Fabinho avisa a Jorsan que Álvaro Lins vai se atrasar para chegar à comunidade. Um dos locais a ser visitado por Lins será a Favela de São José Operário, tomada no início daquele ano por uma milícia.

Cerca de uma hora depois do contato com Jorsan, Fabinho telefona para um delegado da Polícia Civil. Na conversa, eles falam da importância do evento que acontecerá naquela tarde nas comunidades. Seis favelas, segundo a conversa dos dois, renderiam juntas 20 mil votos para Lins.

"Show de bola... Foi feito contato com a mineira lá?"

Durante a conversa com o delegado, Fabinho faz referência aos milicianos do lugar. "Show de bola.... Foi feito contato com a mineira (milícia) lá?", pergunta Fabinho. Segundo o relatório da Polícia Federal, esse delegado seria Marcos Cipriano, titular da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Saúde.

Cipriano, no entanto, nega a conversa.

- Isso foi um equívoco. Nunca falei com o Fabinho. Esse delegado que aparece é outro - diz Cipriano, que aponta o delegado Marco Aurélio Ribeiro como o responsável pela conversa com Fabinho.

Procurado, o delegado Marco Aurélio Ribeiro não foi encontrado para comentar o assunto.

Dias depois de obter pouco mais de 108 mil votos, o deputado eleito Álvaro Lins (PMDB) telefona para o policial Jorsan para agradecer pelos votos obtidos: "Estou ligando para agradecer aí a ajuda, a torcida, todo o trabalho de vocês, continuamos juntos, vamos em frente que tem muito trabalho ainda", disse Lins ao policial militar.

Três meses após essa conversa com Lins, Jorsan, também suspeito de integrar a quadrilha do contraventor Rogério Andrade, foi morto na saída da quadra da escola de samba Renascer de Jacarepaguá. Na época, ele havia feito contato com policiais federais para depor sobre a máfia dos caça-níqueis.