Título: Hillary agora quer se vice
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 04/06/2008, O Mundo, p. 25
Derrota anunciada faz senadora admitir que poderia completar chapa liderada por Obama
Depois que a assessoria de Barack Obama anunciou o apoio oficial de mais 18 superdelegados, Hillary Clinton reconheceu, pela primeira vez, num encontro com parlamentares em Nova York, que está interessada em formar uma chapa com Barack Obama e concorrer à vice-presidência. A declaração foi dada por ela numa teleconferência com políticos de Nova York, quando a deputada Nydia Velásquez disse que Obama tinha o nome de Hillary como sua primeira opção para formar uma ¿chapa dos sonhos¿ em novembro. Horas depois, a rede CNN projetava Obama como candidato democrata, após a votação no penúltimo estado a realizar primárias, Dakota do Sul.
¿ Estou aberta a essa possibilidade, se for ajudar o partido em novembro ¿ disse Hillary, falando sobre uma possível candidatura a vice.
O anúncio foi feito por Hillary pouco após a agência Associated Press afirmar que o senador já contava com o apoio de delegados em número suficiente para atingir os 2.118 necessários para a indicação do partido, mas antes de a vitória ser confirmada pela CNN. Até o momento em que as urnas dos dois estados que realizaram primárias ontem ¿ Montana e Dakota do Sul ¿ foram fechadas, 23 superdelegados já haviam declarado voto em Obama, somando 19,5 votos para o candidato (o voto de delegados de Flórida, Michigan e possessões americanas vale a metade). Enquanto isso, somente dois superdelegados declararam voto em Hillary ¿ e, por um deles ser da Flórida, os apoios valeram só 1,5 voto.
Nos bastidores, assessores dos dois candidatos conversaram durante todo o dia. Enquanto Hillary estudava a ¿suspensão¿ de sua campanha, seus assessores negociavam com aliados de Obama ajuda para o pagamento dos cerca de US$20 milhões em dívidas que Hillary acumulou na campanha. A senadora também reivindicou que Obama revisse seu programa de saúde a fim de adotar o mesmo programa de saúde defendido por ela e por John Edwards.
O diretor da campanha de Hillary, Terry McAuliffe, reuniu ontem os jornalistas para desmentir que a senadora iria anunciar sua renúncia e reafirmar que enquanto um dos dois não tiver 2.118 delegados declarados ninguém poderia declarar-se vencedor.
¿ Só quando um dos dois candidatos tiver 2.118 delegados declarados haverá um vencedor nestas primárias ¿ disse McAuliffe.
Assessores de candidata estão de folga
Ninguém falava em ¿fim de campanha¿ entre os assessores de Hillary. Tecnicamente, a única palavra que se falava nos bastidores da campanha de Hillary era ¿suspensão¿, porque legalmente isto significa que Hillary poderia ainda coletar dinheiro de doações para pagar suas dívidas e para iniciar uma campanha nacional a favor de um programa universal de saúde, que está entre as bandeiras políticas de sua candidatura. A suspensão da campanha de Hillary foi confirmada também pelo fato de que a partir de hoje seus assessores estão oficialmente de folga pelo menos até domingo. Hillary também garantiu que todos terão seus salários pagos até o dia 15.
Aceitar o posto de vice-presidente significa para Hillary desistir da outra possibilidade que se abria para ela, no caso de uma volta ao Senado: ocupar a liderança do partido, deixada pelo senador Ted Kennedy, que se recupera de uma cirurgia cerebral. No Senado americano, muito se comentava que o fim de uma dinastia progressista ¿ a dos Kennedy ¿ seria substituída por outra, a dos Clinton. Segundo alguns, Hillary já teria o apoio suficiente para conquistar a liderança. Outros especialistas, no entanto, garantem que ela voltará a ser uma senadora de segunda linha, por ser considerada uma novata (está apenas em seu segundo mandato) que nunca foi sequer líder de uma comissão do Congresso.
Uma chapa comum ajudaria a acalmar uma possível revolta do eleitorado feminino. Uma pesquisa do Pew Research mostrou que 8% das eleitoras democratas votariam em John McCain caso Hillary não fosse a indicada do partido.
Outra pesquisa, do Instituto Gallup, revelou que apenas 42% dos eleitores de Hillary garantiam o voto em Obama na eleição de novembro, e disseram estudar a possibilidade de votar no candidato republicano. Obama também poderia melhorar seu desempenho noutro eleitorado de forte peso para as eleições de novembro: os eleitores hispânicos, sobretudo em estados como Flórida, Califórnia e Nova York, onde o senador perdeu as prévias democratas. O Gallup também mostrou que a liderança de Obama aumentou nacionalmente: Obama tem agora 48% das intenções de voto contra 44% de McCain.
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*Com agências internacionais