Título: O sonho olímpico não acabou
Autor: Machado, Cláudia ; Pontes, Fernanda
Fonte: O Globo, 05/06/2008, O Globo, p. 12

RIO 2016

Pela primeira vez, Rio fica entre as quatro cidades finalistas para sediar os Jogos

Cláudia Machado, Fernanda Pontes e Ruben Berta

Depois de duas tentativas, o Rio chegou ontem mais próximo do que nunca de sediar uma edição dos Jogos Olímpicos. Ao contrário das candidaturas de 2004 e 2012, em que foi eliminada na primeira fase da disputa, a cidade agora está entre, junto de Tóquio, no Japão, Madri, na Espanha, e Chicago, nos Estados Unidos, entre as quatro finalistas para 2016 e tem até o dia 12 de fevereiro de 2009 para entregar um dossiê mais detalhado do projeto, que mostre que ela tem condições de resolver seus principais problemas, como a violência. O anúncio final acontecerá em outubro de 2009.

O relatório apresentado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) recebeu a nota mais baixa entre os finalistas: 6,8. Em primeiro lugar, ficou Tóquio, com 8,6. Depois, vieram Madri (8,4) e Chicago (7,4). O Rio, na verdade, foi o quinto colocado na disputa, ficando atrás ainda de Doha, no Catar, que teve nota 7,4. A cidade, no entanto, foi eliminada, já que só poderia realizar o evento no mês de outubro, data considerada inadequada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Ficaram de fora Praga, na República Tcheca, e Baku, no Azerbaijão.

Apesar de o Rio ter ficado com a pior nota entre as classificadas, o prefeito Cesar Maia destacou a evolução da cidade em relação às candidaturas anteriores:

- Na disputa de 2004, a nota da cidade foi 3,8. Na candidatura de 2012, subiu para 4,7. E agora chegamos a 6,8. Nosso quadro é ascendente e positivo e isso foi percebido pelo COI em seu critérios de avaliação.

Segurança entre os pontos fracos

O COI analisou as perspectivas das cidades candidatas em 11 itens. Para cada um deles, foi aplicada uma faixa de notas, aplicada por diferentes jurados. Os destaques do Rio foram "suporte governamental e apoio da opinião pública" (faixa de 7,3 a 8,8) e "experiência em eventos esportivos" (6,6 até 7,9). Os principais deveres de casa para serem resolvidos também foram apontados: segurança (4,6 até 7); infra-estrutura de transportes (5,3 até 7,2) e rede hoteleira (5,5 até 6,4) são os principais pontos negativos. Na fase final, no entanto, todas as cidades recomeçam a disputa do zero.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Alfredo Lopes, hoje são apenas 28 mil quartos no município, quando deveriam ser 46 mil. A organização da Rio 2016 se compromete a criar 49.570 quartos em hotéis, transatlânticos, duas vilas para a imprensa e acomodação de árbitros e albergues.

- O Rio ganha em média mil novos quartos por ano. Acho que não será difícil alcançar a meta. Estar entre as finalistas é sensacional, mas para o Rio ganhar terá que se preocupar com uma série de questões, inclusive com o combate a dengue - diz Lopes.

Outro desafio é melhorar os indicadores ambientais, cuja nota mínima foi de 5,6 e máxima de 7,6. A despoluição do sistema lagunar de Jacarepaguá e da Barra será uma das prioridades da agenda ambiental, segundo os organizadores.

O próximo passo da empreitada olímpica do Rio será o pagamento de uma taxa de US$500 mil somente para a participação na etapa final. Além disso, serão gastos US$42 milhões com a elaboração e divulgação do projeto final. A candidatura será financiada em partes iguais pelos três níveis de governo: federal, estadual e municipal, além da participação da iniciativa privada.

O projeto elaborado pelo comitê prevê a concentração da maior parte das modalidades num Parque Olímpico na Barra da Tijuca, que tem 56% das instalações existentes, construídas para os Jogos Pan-americanos de 2007. O parque seria composto por dez instalações, sendo três já existentes - o Parque Aquático Maria Lenk, o Velódromo e Arena Multiuso - e sete novas, entre elas o futuro Centro de Treinamento Olímpico. A previsão é de que os equipamentos esportivos ocupem um terreno de 45 hectares. A Barra abrigaria ainda as duas Vilas de Mídia, o Centro Principal de Imprensa (MPC), o Centro Internacional de Rádio e Televisão (IBC) e os hotéis oficiais do COI.

Para tentar resolver os problemas de transporte público e de meio ambiente, o COB prevê que serão precisos investimentos de R$5 bilhões. Na lista de melhorias previstas estão a despoluição do Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e a criação de BRTs (Bus Rapid Transit) - linhas de ônibus com faixas exclusivas que interligariam a Barra às zonas Sul, Norte e Oeste. Os veículos usariam biocombustíveis para reduzir a poluição e assim garantir mais um legado ambiental das Olimpíadas. Não há previsão de novas linhas de metrô.

Os BRTs no Rio seriam três, ainda em fase de projeto. Foram propostos pela prefeitura e dependeriam de parcerias com a iniciativa privada. Dois deles já têm projetos concluídos: o Corredor T-5 (Barra-Penha), com custo estimado em R$800 milhões, e a Ligação C (Barra-Deodoro), orçada em cerca de R$540 milhões. O terceiro BRT só seria desenvolvido no caso de o Rio vencer a disputa. Ele prevê a criação de um corredor exclusivo para a circulação de ônibus na Auto-Estrada Lagoa-Barra, com a duas novas faixas de tráfego, uma em cada sentido. E exigiria a construção de viadutos e túneis paralelos ao Zuzu--Angel e ao do Joá.

No capítulo segurança, o relatório entregue pelo Rio ao COI prevê que a responsabilidade ficaria a cargo do governo federal. Há a previsão de uma brigada antiterrorista e programas de engajamento comunitário em áreas carentes, com a formação de seis mil pessoas destas áreas em guias cívicos para ajudar em primeiros socorros, defesa civil e bombeiros.