Título: Álvaro Lins será julgado por quebra de decoro
Autor: Amora, Dimmi ; Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 05/06/2008, O Globo, p. 16

Após depoimento do ex-chefe de Polícia, corregedor da Alerj diz ter mantido convicção de que deputado é culpado

Dimmi Amora e Fábio Vasconcellos

Duas horas de depoimento na Corregedoria da Assembléia Legislativa não foram suficientes para o deputado estadual Álvaro Lins (PMDB) conseguir convencer seus pares de sua inocência. O corregedor da Alerj, deputado Luiz Paulo (PSDB), disse que fará uma representação contra o ex-chefe de Polícia, por quebra de decoro parlamentar. Na próxima semana, já começa o processo na Conselho de Ética que poderá levar à sua cassação. Mas, para Lins, a maior derrota ontem veio depois. Depois de esperar por quase três horas, o deputado não conseguiu audiência com o presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB).

Deputado fica isolado na Assembléia Legislativa

Lins manteve-se calmo e frio durante todo o tempo do depoimento e saiu sem dar entrevistas. De acordo com Luiz Paulo, o ex-chefe de Polícia respondeu a pouco mais de 25 perguntas dele e do corregedor substituto, Comte Bittencourt (PPS), sempre dizendo que as acusações da Polícia Federal eram interpretações de diálogos e que não havia provas. Lins recusou-se apenas a responder a perguntas da deputada Cidinha Campos (PDT), alegando que ela não era da corregedoria.

- O depoimento não trocou minha convicção de que houve quebra de decoro no que relata a investigação muito bem realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal - afirmou o corregedor.

Depois do depoimento, Lins refugiou-se numa sala ao lado do plenário, chamada "furna da onça", com assessores. Dali, tentou contato para ser recebido pelo presidente Jorge Picciani. Mas os contatos foram infrutíferos: Picciani tem se recusado a recebê-lo desde que Lins foi libertado. Depois de quase três horas na "furna", ele saiu também sem dar declarações aos jornalistas e não participou das votações.

Lins está cada vez mais isolado na tentativa de manter seu mandato. A péssima repercussão pública de sua soltura por um decreto legislativo na semana passada fez com que a Casa necessitasse dar uma resposta rápida. Ontem, para evitar protelação, o corregedor não concedeu o adiamento do depoimento por três dias, pedido pela defesa do deputado.

O presidente do Conselho de Ética da Alerj, Paulo Melo (PMDB), declarou ontem que conduzirá o processo com a maior "celeridade possível". O corregedor deverá entregar seu relatório na segunda-feira à mesa diretora. A previsão é de que, no mesmo dia, a mesa vote.

Caso seja aprovado, ele seguirá para o Conselho de Ética, que terá 90 dias para elaborar um novo relatório, que pode pedir o arquivamento, a suspensão ou a cassação do mandato. Se o relatório for aprovado por maioria dos nove integrantes, vai para o plenário. Em sessão secreta, é necessário ter maioria (36 dos 70 votos) para que o deputado seja cassado.