Título: Nova alta da taxa básica eleva dívida pública brasileira em R$2 bilhões
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 05/06/2008, O Globo, p. 26

MAIS APERTO: Segundo Anefac, impacto para o consumidor será pequeno

Com os dois aumentos da Selic, débito crescerá R$4,2 bi em um ano

Juliana Rangel

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), de elevar a Taxa Selic de 11,75% para 12,25% ao ano, resultará em um aumento de R$2 bilhões na dívida pública brasileira no período de um ano. Atualmente, uma fatia de 35% da dívida, que soma R$1, 2 trilhão, está atrelada a juros pós-fixados. Considerando a elevação anterior da taxa Selic - de meio ponto percentual, em abril -, o impacto total será de R$4,2 bilhões.

De acordo com o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, se a Selic chegar a 13,75% no fim do ano, conforme prevêem analistas de mercado, a dívida total será aumentada em R$10 bilhões.

- Além disso, há uma parte da dívida que está atrelada a juros pós-fixados e que já vinha sofrendo com taxas mais altas pedidas por investidores, que apostavam no aumento da Selic - observa Campos Neto.

Governo também está pagando mais por prefixados

A parcela da dívida associada a juros prefixados, atualmente, gira em torno de 35%:

- Hoje, o Tesouro só consegue vender títulos prefixados pagando taxas mais altas. Um ano atrás, os investidores pediam 11%. Agora, a faixa está entre 13% e 14% ao ano.

O economista também observa que o déficit em conta corrente do Brasil poderá ser atenuado com a alta da Selic.

- O juro maior segura o aumento do déficit em conta corrente, à medida que reduz o ritmo da expansão econômica e, conseqüentemente, as importações - avalia.

A projeção do Banco Schahin é de que a o déficit em conta corrente chegará a US$25 bilhões no fim do ano, o equivalente a 1,5% do PIB. Ele estima um crescimento da economia de 4,5% nesse ano.

Em abril, o déficit em transações correntes era de US$14,7 bilhões em 12 meses. Há um ano, o Brasil tinha superávit de US$18,9 bilhões.

O economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, projeta um déficit em conta corrente de US$20 bilhões no fim do ano.

- O aumento da Selic tem um efeito direto nessa conta, ao ajustar melhor a demanda à capacidade de oferta - diz.

Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a elevação da Selic terá efeito pequeno sobre operações de crédito. Em nota, a associação diz que já existe uma forte diferença entre a Selic e os juros cobrados ao consumidor, com variação de mais de 1.000% entre as duas pontas.

A taxa em todas as operações de crédito passará de uma média anual de 131,62% para 132,65% ao ano. O juro do cartão de crédito subirá de 226,75% ao ano para 228,17%; o do cheque especial, de 143,55% para 144,64%; do CDC de bancos, 42,41% para 43,08%. Nos empréstimos pessoais em financeiras, a taxa passará de 255,94%, para 257,48% e, em bancos, de 85,63% para 86,48%. No comércio, o juro passará de 101,45% para 102,36%.

Associações empresariais pedem corte de gasto público

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) pediram o corte de gastos públicos para controlar a inflação, como alternativa ao aumento dos juros. A CNI disse, em nota, que a alta recente da inflação não será contida com a Selic, porque as pressões se originam dos preços internacionais dos alimentos e das commodities. Já a Fiesp disse que o governo está punindo a sociedade aumentando juros, em vez de adotar uma política fiscal mais austera. Segundo a entidade, "gastos públicos desnecessários geram dívidas e, conseqüentemente, mais impostos".