Título: Cabral terá que brigar por Paes
Autor: Góis, Chico de; Tabak, Flávio; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 07/06/2008, O País, p. 3
Ex-secretário enfrenta resistências no PMDB; aliança com DEM não está descartada
Obraço forte do governador Sérgio Cabral parece insuficiente para neutralizar de vez as resistências ao nome do ex-tucano Eduardo Paes como candidato do PMDB à prefeitura do Rio. Paes era a primeira opção de Cabral, que há dois meses, porém, anunciou apoio ao pré-candidato do PT, o deputado estadual Alessandro Molon. Ontem, em nova reviravolta, foi anunciado que o governador voltará a defender a candidatura de Paes.
Nesta segunda-feira, numa pequena prévia da convenção, a direção regional do partido avaliará a tese da aliança com o DEM. Será o palco para as manifestações contra o nome de Paes, que se desincompatibilizou anteontem da Secretaria estadual de Esporte e Lazer. O presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, já se posicionou ontem contra a escolha de Cabral. E nomes de peso no partido, como o deputado federal Eduardo Cunha, também escolheram o lado.
- Vou votar pela aliança com o DEM. Caso o partido decida pela candidatura própria, apoiarei o Marcelo Itagiba - disse Cunha.
A resistência a Paes, que nasceu junto com a filiação ao PMDB, feita às pressas pelo governador, levará integrantes do partido a levantar a hipótese de impugnação da candidatura do ex-secretário. Os opositores de Paes alegam que é irregular a desincompatibilização dele, publicada ontem num suplemento do Diário Oficial com data de quinta-feira - prazo final para as exonerações de pré-candidatos, de acordo com o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ato foi assinado pelo governador em exercício, Luiz Fernando Pezão. Em uma coluna ao lado do decreto de exoneração, que identifica os nomes do primeiro escalão do governo, Paes ainda aparece como secretário.
- Fui eu que assinei a exoneração. Não há problema algum nela. Já tínhamos programado que ele seria candidato a vereador, como puxador de legenda - defende Pezão.
Pezão: "Ele já é o candidato"
O ex-governador Anthony Garotinho, publicamente, endureceu o discurso contra Cabral ontem e reafirmou a defesa da aliança com o DEM. Em seu blog, Garotinho afirmou que a palavra do governador vale "o mesmo que uma nota de R$15: não existe". Ele sustentou ainda que antecipara, há dois meses, o caráter do apoio anunciado por Cabral ao petista Alessandro Molon: "Era tudo de mentirinha". Garotinho afirmou ainda que manterá a posição de defender a aliança com o DEM.
Mas a posição de Garotinho ainda pode mudar. Segundo aliados do ex-governador, que se reuniu ontem com Jorge Picciani, presidente da Assembléia Legislativa do estado, para avaliar os impactos regionais do fim da aliança com o PT, o nome de Paes é mais palatável para ele do que uma aliança com o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pezão sustentou ontem que a reunião de segunda-feira vai reafirmar a união do partido em torno de Paes, sepultando a tese de aliança, seja com o DEM ou com o PMDB.
- Não tem confusão nenhuma (sobre a candidatura de Eduardo Paes). Já é o candidato. É claro que segunda-feira a gente vai ter que votar na convenção para derrubar a aliança com o DEM, e ele vai ser consagrado nosso candidato - disse o governador em exercício, que participou ontem, no Palácio do Planalto, de cerimônia de assinatura de contratos e ordens de serviço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para obras de saneamento e habitação.
O discurso é o mesmo de Picciani, também secretário-executivo do diretório estadual do PMDB:
- O partido vai votar unido pela candidatura própria. A campanha começa agora para nós.
O discurso é novo. Há um ano, quando o então secretário se filiou ao PMDB, Picciani foi uma das vozes mais agudas contra a possibilidade de o ex-tucano ser candidato. Ele avaliava que o ingresso de Paes foi oportunista e autoritário. Agora, o comportamento do ex-secretário, mais partidário e discreto, teria conquistado Picciani e aliados. Paes chegou a aceitar fazer campanha para Molon.
O deputado federal Marcelo Itagiba, ainda de olho no passaporte do PMDB para ser candidato à prefeitura, se diz fortalecido com a mudança de posição do governador:
- Eu permaneço com a minha tese, que está se mostrando correta: o partido ter candidato, com PMDB na cabeça de chapa. Vou à convenção. Não estou trabalhando com caciques, e sim com a base do partido.
A relação entre Cabral e Lula, segundo Pezão, não foi abalada pelo fim do acordo. O governador telefonou anteontem à noite para o presidente.
- O presidente Lula entendeu plenamente. Não tem problema nenhum - disse Pezão, pouco antes da cerimônia no Planalto.