Título: Isolado, PT faz desagravo a Molon e ameaça deixar governo de Cabral
Autor: Medeiros, Lydia; Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 07/06/2008, O País, p. 4
"O noivado foi terminado como namoro. Não teve nem bilhete", diz dirigente petista
As reações do PT misturaram solidariedade e irritação. Em torno do pré-candidato Alessandro Molon, o partido unificou o discurso e trouxe ao Rio estrelas nacionais, num desagravo claro ao rompimento promovido pelo governador Sérgio Cabral. Ao mesmo tempo, dirigentes do partido no Rio fizeram ontem uma reunião para reafirmar que seguirão com Molon na campanha. Hoje, às 10h, o diretório regional fará outro encontro para decidir o rumo do PT no governo Sérgio Cabral. Como resposta, poderá haver uma debandada de representantes do partido do executivo estadual.
- O tratamento que o PMDB nos deu foi sacana, não foi leal. Tinha um noivado que, de repente, foi terminado como um namoro. Não teve nem bilhete. Eles ficaram pedindo as coisas a prestação, não tinha como atender - disse o presidente do PT municipal, Alberes Lima.
Tropa de choque federal afaga Molon
O governo federal mandou uma tropa de choque ao Rio para afagar Molon. Um debate em torno do livro "O Mundo Real: Socialismo na Era Pós-Liberal" se tornou um ato de desagravo ao deputado. Os ministros da Justiça, Tarso Genro, e da secretaria-geral da Presidência, Luiz Dulci, o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e o secretário especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, fizeram coro em defesa de Molon, nos discursos:
- Molon é um jovem já um pouco grisalho, mas com idéias. É indiscutivelmente um vitorioso, seja qual for o resultado da eleição, que será boa para nós - disse Garcia.
- Não fosse o momento delicado que se configurou nas últimas 48 horas, o encontro teria um tom diferente - afirmou Paulo Vanucci.
- Ter um prefeito como o Molon nos entusiasma muito. Espero que os fatos recentes possam ser trabalhados e superados - completou Dulci.
Anfitrião do encontro, no auditório da Universidade Candido Mendes, no Centro do Rio, o reitor foi dos mais enfáticos:
- Esse dia começou com um travo. Uma notícia de regresso político. E aqui está o PT, que, para a vitória de Molon, não precisa mais de muleta.
Molon encerrou o encontro pedindo os ministros que reservem os fins de semana de folga, para vir ao Rio, participar de sua campanha.
Outros integrantes da tropa federal desembarcam hoje no Rio. Toda a bancada da Câmara dos Deputados participará da reunião do diretório regional, além dos ministros Edson Santos (Igualdade Racial), Nilcéia Freire ( Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) e Carlos Minc (Meio Ambiente). Depois do anúncio de Eduardo Paes como pré-candidato, os petistas pretendem diminuir significativamente o apoio nos outros municípios do estado. O PMDB queria o PT em 33 cidades, mas, de acordo com o presidente do diretório municipal petista, Alberes Lima, os acertos serão prejudicados. Ele considera que o PMDB foi desleal ao cancelar a aliança com Molon.
O presidente regional do partido, Alberto Cantalice, admitiu que está irritado com o fim da aliança, mas disse que vai avaliar com calma:
- O partido está irritado com esses fatos. Mas vamos avaliar serenamente.
Sobre o apoio do PT ao PMDB nos outros municípios, Cantalice disse haverá discussão sobre a manutenção das alianças. A influência do presidente Lula, que será representada pelos ministros, será decisiva.