Título: O pior trimestre
Autor: Flores, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2009, Economia, p. 12

Número de postos de trabalho na indústria de janeiro a março encolheu 4%, de acordo com o IBGE. No acumulado dos últimos 12 meses, o resultado é o mais negativo desde o início da pesquisa, em 2001

Os primeiros sinais de recuperação na produção industrial sentidos em março não beneficiaram o mercado de trabalho. As demissões no segmento continuam. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente ao mês de março mostra que o recuo no número de empregados no acumulado dos últimos 12 meses é o maior da série histórica, iniciada em 2001. Em março havia 5% menos funcionários que no mesmo mês de 2008. No acumulado do primeiro trimestre do ano, a retração é de 4% e, desde outubro de 2008, quando os primeiros sintomas da crise econômica começaram a aparecer no país, a indústria já reduziu em 5,8% o quadro de pessoal.

A explicação para a continuidade das demissões, mesmo com um alívio na atividade industrial ¿ a produção em março aumentou em oito das 14 regiões pesquisadas ¿ se deve ao atraso com que os efeitos da retração econômica chegam ao emprego. A retomada também leva mais tempo. Em março, a queda perdeu ritmo: em relação a fevereiro, o recuo foi de 0,6%, comparando números dessazonalizados, menor que nos meses anteriores (veja quadro). Mas não é sinal de recuperação, na opinião de especialistas. ¿Isso representa um arrefecimento da queda, a tendência de diminuição do emprego perdeu o ritmo, mas não significa que no curto prazo os problemas estejam resolvidos. Mas, agora, o desemprego se dará de forma menos intensa¿, afirma o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério de Souza.

A desaceleração da queda continuará em abril, segundo o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini. A pesquisa que a entidade divulga amanhã referente ao estado de São Paulo mostra que a produção começa a reagir, aliviando as demissões. ¿Estamos assistindo a um retorno dos investimentos e há sinais de uma clara diminuição da intensidade das demissões¿, afirma. Apesar disso, a expectativa é de que mesmo que o ritmo de produção se acelere, o mercado de trabalho não consiga recuperar as perdas. O ano será negativo para o emprego industrial. ¿Em março, há uma melhora, temos taxas menos negativas, mas há predominância de queda, não configura nenhum tipo de inversão do cenário, embora a produção mostre uma ligeira recuperação, mas é algo muito suave¿, afirma o economista do IBGE André Macedo.

Período negativo Os três primeiros meses do ano foram de retração para 14 dos 19 setores pesquisados. Na média nacional, a indústria reduziu 4% no período em relação aos mesmos meses de 2008. Os setores que mais sentiram os efeitos da turbulência econômica foram os de madeira e calçados e couro, onde a queda passou de dois dígitos.

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