Título: PF desmonta rede de pedofilia em Roraima
Autor: Marques, Ana; Mendes, Adriana
Fonte: O Globo, 07/06/2008, O País, p. 10

Entre os oito presos, está o procurador-geral do estado; casal aliciava e drogava meninas entre 6 e 14 anos

BOA VISTA (RR). Oito pessoas acusadas de integrar uma rede de pedofilia e narcotráfico foram presas ontem pela Polícia Federal, em Boa Vista, capital de Roraima, na Operação Arcanjo. Todos os presos são acusados de drogar e explorar sexualmente vinte meninas com idade entre 6 e 14 anos. Entre os presos está o procurador-geral do estado, Luciano Alves Queiroz. Segundo as investigações da PF, o procurador fazia programas sexuais com crianças e adolescentes dois a três dias por semana. Pagava em média de R$15 a R$50 por programas com crianças, realizados em motéis e também em sua casa.

Imagens gravadas mostram uma mulher levando pela mão crianças de sete anos para entregar ao procurador. Há cenas dele pegando meninas em casa e levando ao motel. O casal Givanildo dos Santos Castro e Lidiane do Nascimento Foo foi apontado como responsável pelo agenciamento das crianças, inclusive da própria filha, de 6 anos. Além de ser um dos clientes fiéis da rede de exploração infantil, a polícia apurou que Queiroz também participava do esquema.

Major preso já tinha sido condenado por estupro

Foram presos ainda os irmãos empresários José Queiroz da Silva, o Carola, e Valdivino Queiroz da Silva; o major da Polícia Militar Raimundo Ferreira Gomes, que já tinha sido condenado por estupro; o empresário Jackson Ferreira do Nascimento e Hebron da Silva Vilhena, servidor do Tribunal Regional Eleitoral de Roraima e agente de proteção do Juizado da Infância e Juventude.

Queiroz foi o responsável pela ação judicial do governo de Roraima que suspendeu a Operação Upatakon, da Polícia Federal, que iria retirar todos os produtores de arroz do interior da reserva raposa Serra do Sol . Quando a ação foi votada no Supremo Tribunal Federal (STF), ele foi acompanhar a votação em Brasília.

Ontem, mesmo com grampos telefônicos, imagens e fotografias dos encontros, Queiroz se disse inocente e vítima de armação por ser o autor da ação contra os índios de Raposa Serra do Sol. O governador de Roraima, Anchieta Júnior, em nota, lamentou o ocorrido e disse que, preliminarmente, decidiu pelo afastamento imediato do procurador-geral. O Ministério Público já havia anunciado que, se Queiroz não fosse imediatamente exonerado, a instituição ingressaria com uma ação civil pública, por entender que o procurador não teria condições morais para permanecer no cargo.

Segundo o superintendente da PF, José Maria Fonseca, a investigação teve início há cerca de seis meses, a partir do monitoramento de uma quadrilha de tráfico de drogas denunciada pelo Conselho Tutelar de Boa Vista. O major Raimundo foi um dos primeiros a ser apontado como um dos aliciadores das crianças para a rede de pedofilia. O militar já havia sido condenado antes a 25 anos de prisão por estupro. O processo está em grau de recurso, e ele está solto porque não foi preso em flagrante.

Segundo Fonseca, Givanildo e Lidiane integravam o esquema de tráfico de drogas e forneciam cocaína para as menores utilizarem antes, durante e depois dos programas sexuais. As meninas são de famílias humildes da periferia de Boa Vista:

- As investigações levam a crer que essas meninas tornaram-se dependentes químicas.

O Ministério Público de Roraima aponta Queiroz como um dos principais envolvidos na rede de pedofilia.

- Na casa do procurador foram encontradas diversas fotografias de crianças, uma espécie de book - disse o promotor de Justiça José Rocha Neto.

Além das fotos, o promotor disse que há vídeos que comprovam o envolvimento dos acusados na rede de pedofilia. O promotor contou que todo o trabalho de aliciamento era feito por Lidiane com a ajuda do major Gomes. Lidiane fazia amizade com as famílias para ficar próxima das crianças.

- Ela pegava as garotas geralmente nas proximidades da escola, nos horários de aula, para levar aos clientes. Em troca, ela dava presentes às garotas. Os pais não tinham conhecimento do que acontecia - disse Neto.

Os programas sexuais ocorriam na casa de Lidiane e em motéis da cidade. Todos os presos vão responder pelos crimes de estupro com violência presumida, atentado violento ao pudor, formação de quadrilha, tráfico de drogas, prostituição infantil e corrupção de menores. O major da PM foi encaminhado ao quartel da Polícia Militar e o procurador Luciano Queiroz, por ter nível superior, ficará em cela especial da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo.

A operação Arcanjo contou com 70 policiais federais e 25 agentes da Força Nacional de Segurança para o cumprimento dos oito mandados de prisão e sete de busca e apreensão. Na casa do procurador foi encontrada uma arma sem registro.

* Especial para O GLOBO ** Do Globo Online