Título: O céu é o limite
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Fonte: O Globo, 07/06/2008, Economia, p. 31
Barril do petróleo sobe US$10 em um único dia e pode chegar a US$150 já em julho
NOVA YORK e LONDRES
Acotação do petróleo registrou ontem seu maior salto em um único dia - mais de US$10, ou cerca de 8% -, derrubando as principais bolsas globais e trazendo o fantasma de um barril a US$150 às vésperas das férias de verão no Hemisfério Norte. A alta se deveu ao recuo do dólar frente ao euro, após a divulgação do aumento do desemprego nos Estados Unidos, e às ameaças de um ataque israelense ao Irã.
Em Nova York, o barril do tipo leve americano saltou US$10,75 (8,41%), para o recorde de US$138,54, tendo sido negociado a US$139,12 durante o pregão. A Bolsa Mercantil (Nymex) chegou a suspender os negócios, porque o limite por contrato era de US$10 (o chamado circuit breaker). As operações pararam por cinco minutos e, ao serem retomadas, o limite fora elevado em mais US$10. Em Londres, o barril do tipo Brent fechou em alta de US$10,15 (7,95%), a US$137,69, tendo atingido US$138,12 durante o pregão.
- É absolutamente surpreendente - disse Chris Feltin, analista da Tristone Capital.
Em Nova York, o Dow Jones caiu mais de 3%. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo recuou 2%.
O banco de investimentos Morgan Stanley afirmou, em relatório, que o barril pode chegar a US$150 até 4 de julho, o Dia da Independência nos EUA, em que muitos americanos viajam. Em maio, o Goldman Sachs previra que em dois anos o barril chegaria a US$200. "As exportações de petróleo do Oriente Médio estão estáveis, mas a Ásia está tomando uma fatia sem precedentes", afirmou o relatório, lembrando que os estoques americanos já caíram em 35 milhões de barris desde março.
- Estamos em território inexplorado e, de certa maneira, fora do mapa, considerando-se os precedentes históricos - afirmou Jim Ritterbusch, presidente da consultoria em energia Ritterbusch and Associates.
Este ano, os preços do petróleo avançaram 44%, ameaçando o crescimento da economia dos principais países consumidores, incluindo os EUA, já abalados pela crise no mercado imobiliário. Segundo analistas, a dramática alta da commodity tem sido puxada pela demanda da China e de outros emergentes, bem como por investidores buscando proteção contra a desvalorização do dólar e a inflação nas economias desenvolvidas.
Aéreas: gasto deve atingir US$61 bi este ano
Ontem, o dólar voltou a recuar frente às principais moedas devido à alta do índice de desemprego nos EUA em maio, de 5% para 5,5% - o maior avanço mensal em 22 anos. O euro atingiu US$1,5768, contra US$1,5593 (alta de 1,12%) na véspera. Já a libra passou de US$1,9596 para US$1,9713 (0,59%). Na quinta-feira, a moeda americana já havia sido pressionada depois que o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, aventou a hipótese de subir a taxa básica de juros, talvez já mês que vem.
- O BCE puxou nosso tapete - disse Phil Flynn, analista sênior da Alaron Trading.
Somaram-se ao desemprego e à desvalorização do dólar as declaração do ministro dos Transportes israelense, Shaul Mofaz, de que seu país poderia atacar o Irã se este prosseguisse com seu programa nuclear. Mofaz disse ao jornal israelense "Yediot Ahronot", um dos principais do país, que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, "vai desaparecer bem antes de Israel". Até o momento, foi a ameaça mais explícita do governo de Ehud Olmert. O Irã é o segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), e um conflito armado poderia afetar o suprimento global da commodity.
A disparada do petróleo vem pressionando os preços de alimentos e, conseqüentemente, a inflação. Alguns países asiáticos, como Índia e Filipinas, decidiram reduzir seus subsídios aos combustíveis, o que provocou protestos da população. Na Europa, os protestos têm vindo de transportadoras e produtores, impedidos de reajustar seus preços e vendo seus ganhos corroídos pela alta do combustível.
As companhias aéreas também têm sido fortemente afetadas. Esta semana, a United Airlines e a Continental anunciaram cortes de pessoal para reduzir seus custos, de 1.100 e 3 mil, respectivamente. Os gastos das aéreas americanas devem atingir US$61 bilhões este ano, US$20 bilhões a mais que em 2007, segundo estimativas da Associação de Transportes Aéreos (ATA).
- As coisas só pioraram para nós - disse o diretor-executivo da ATA, James May.
A Agência Internacional de Energia (AIE) afirmou, em relatório divulgado ontem, que o mundo precisa investir US$45 trilhões em energia para reduzir à metade as emissões de gases do efeito estufa até 2050. O organismo estima que será preciso construir cerca de 1.400 usinas nucleares e ampliar o uso da energia eólica.
PETROBRAS IMPEDE QUEDA MAIOR DA BOVESPA, na página 32