Título: Cabral destroca Molon por Paes
Autor: Menezes, Maiá; Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 06/06/2008, O País, p. 3

Acordo entre PT e PMDB no Rio é cancelado; petista fica isolado na disputa

Acalentada nacionalmente pelas constantes demonstrações de afeto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Sérgio Cabral, a aliança entre o PT e o PMDB no Rio sucumbiu às particularidades do jogo de poder regional. O governador Sérgio Cabral, pouco mais de dois meses depois de anunciar o apoio ao pré-candidato do PT, Alessandro Molon, mudou novamente de rumo e devolveu o bastão de afilhado ao agora ex-secretário estadual de Esporte e Lazer, Eduardo Paes - que se desincompatibilizou do cargo ontem, com data retroativa a anteontem, sob a alegação de que se candidataria a vereador, como puxador de legenda. A exoneração deverá sair no Diário Oficial de hoje.

Filiado ao PMDB em julho do ano passado, com a bênção de Cabral e sob protesto de peemedebistas, Paes fora a opção do governador para driblar a aliança com o DEM, alternativa antes defendida pelo presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani. Poderoso no partido, Picciani afiançou ontem o apoio a Paes, que classificou de "bom menino".

A última tentativa de tentar superar os obstáculos da aliança foi uma reunião ontem à tarde, na Assembléia Legislativa. O PMDB queria o apoio do PT a candidaturas majoritárias em dez municípios. Conseguiu em apenas quatro. Um gesto em especial irritou Picciani: a desincompatibilização do secretário executivo do Pronasci, Zaqueu Teixeira, para concorrer à prefeitura de Queimados. O PMDB queria apoio para o ex-presidente da Câmara dos Vereadores Max Lemos, afilhado político de Picciani. Houve impasse ainda em Resende, Volta Redonda, Cabo Frio e Rio das Ostras. Depois do encontro, que reuniu o presidente regional do PT, Alberto Cantalice, o senador Regis Fitchner (PMDB) - até anteontem candidato a vice de Molon e secretário estadual da Casa Civil -, Picciani e o deputado estadual Gilberto Palmares (PT), o presidente da Alerj telefonou para Cabral, que está na Grécia com Paes, sepultando a aliança. Nem Paes nem Cabral foram localizados ontem.

- Houve falta de contrapartida do PT em seus diretórios regionais. Alguns pré-candidatos estavam reclamando que não tinham apoio do PT. A gota d"água foi a entrada do Zaqueu Teixeira na disputa por Queimados - afirmou o senador Regis Fitchner.

Interpretação semelhante tem o vice-governador Luiz Fernando Pezão.

- O PT não honrou os acordos nas cidades em que tinha se comprometido. Eu, particularmente, já tinha falado isso: o Paes é um grande candidato. Vai dar uma injeção de ânimo no PMDB - disse.

Molon se diz surpreso com o rompimento

Com um mote já definido para a campanha eleitoral, em que exploraria a sintonia com os governos federal e estadual, o deputado Alessandro Molon, em nota, se disse surpreso com a nova reviravolta: "A notícia nos pegou de surpresa. O PT, apesar disso, seguirá firme nesta eleição com minha candidatura e com nosso projeto para a cidade. As direções regional e municipal do PT se manifestarão após o pronunciamento oficial do PMDB".

O presidente regional do PT disse não ter sido informado sobre o rompimento durante o encontro. O partido se reúne amanhã para "avaliar a relação com Cabral" a partir do anunciado abandono da aliança.

- Foi uma grande surpresa. Mas o Molon é o candidato. O PT é um partido forte no Rio.

O deputado Gilberto Palmares, testemunha do encontro, disse que a executiva municipal do PT já havia decidido pela aliança também entre candidatos proporcionais. Depois da reunião, ainda antes de saber oficialmente do rompimento, ele afirmou que havia um esforço da direção para contornar os impasses regionais.

O pré-candidato do PT à prefeitura de Queimados, Zaqueu Teixeira, negou que tenha sido o motivo para a quebra da aliança. Segundo ele, o PMDB tentou impor um candidato de cima para baixo em Queimados:

- Eu não sou o pivô disso. O pivô é o PMDB, que coloca seus interesses pessoais, de afilhados, nessa relação. Estou aberto para conversar, mas não tenho que me submeter ao Picciani. Houve uma tentativa de imposição, não vamos aceitar isso de cima para baixo.

Eduardo Paes terá, caso confirmado na corrida eleitoral na convenção, no próximo dia 22, um vice do PP ou PSB. Regis Fichter disse que não será vice de Paes:

- Provavelmente não serei vice. Faremos algum acordo, temos como aliados prováveis o PSB e o PP.