Título: Partidos realizam convenções em clima tenso
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 08/06/2008, O País, p. 8

Disputas ameaçam rachar tradicionais alianças eleitorais nos municípios este mês, quando as chapas serão oficializadas

BRASÍLIA. A disputa municipal nas principais capitais está embolada, com muitos candidatos e alianças que, dependendo da realidade local, poderão separar aliados e unir adversários do campo nacional. Preocupadas com o impacto dessas alianças nas eleições estaduais e presidenciais de 2010, as cúpulas dos partidos - sobretudo de PT e PSDB - prometem acompanhar de perto as convenções partidárias que serão realizadas até o fim do mês. Tanto na oposição quanto no governo há uma forte preocupação em evitar seqüelas em seus grupos nas capitais consideradas estratégicas.

A percepção generalizada é que a eleição municipal deste ano está promovendo uma desconstrução de palanques tradicionais e até naturais, que podem afetar diretamente a sucessão presidencial. As cúpulas partidárias não estão conseguido resolver os problemas e o clima promete se acirrar até o fim do mês, quando candidaturas e chapas devem ser registradas. As dificuldades estão levando o PT, por exemplo, a seguir isolado nas três principais capitais: São Paulo, Rio e Belo Horizonte.

PT nacional não aceita aliança com PSDB em Minas

O temor de que uma aliança com o PSDB em Belo Horizonte reforce a candidatura do governador tucano Aécio Neves à sucessão presidencial tem sido o principal argumento do comando petista para interferir na sucessão na capital mineira. O PT nacional veta a coligação pretendida por Aécio e pelo prefeito petista Fernando Pimentel em torno da candidatura de Márcio Lacerda, do PSB, tradicional aliado do PT. Ou seja, por causa do PSDB, o PT comprou briga com aliados fiéis de Lula, como o governador Eduardo Campos (PE) e o ex-ministro Ciro Gomes.

Como cresce o risco de o PT acabar isolado em Belo Horizonte, o PSB aposta em outras frentes. Na última sexta-feira, Eduardo Campos sinalizou que o PSB poderá negociar o apoio à candidatura da petista Marta Suplicy em São Paulo, em troca da flexibilização da decisão da direção do PT na capital mineira.

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), mantém-se irredutível:

- Nossa posição é de não fazer aliança com o PSDB.

Outro caso emblemático é o de Salvador, onde palanques do governo e da oposição estão em guerra interna e já começam a se confundir. Semana passada, a cúpula do DEM foi duramente cobrada pelo PSDB em razão do acordo fechado entre o candidato do partido, o deputado ACM Neto (DEM-BA), com o PR e o PRB do senador Marcelo Crivella (RJ) e do vice José Alencar. Crivella negociou a desistência do radialista Raimundo Varella (PRB), âncora da TV Record e até então líder nas pesquisas, em troca de uma possível composição com o DEM no segundo turno das eleições no Rio.

Uma mostra de que as alianças municipais não obedecem a critérios ideológicos: esse acordo foi apresentado antes aos tucanos, que não aceitaram a proposta do PRB de que a aliança com o candidato do PSDB, Antonio Imbassahy, fosse condicionado ao apoio a Crivella no Rio. Os tucanos tentavam atrair Varella para a chapa de Imbassahy.

- ACM Neto fez uma aliança preferencial com a Universal. O único que tinha poder de decidir sobre o apoio da TV (Record), da igreja e do partido (PRB) era Crivella - disse o deputado Jutahy Junior (PSDB-BA).

O deputado ACM Neto nega qualquer acordo com a Universal, mas admite que fechou sua chapa com o bispo Márcio Carlos de Marinho (PR) de vice:

- Não houve acordo com Crivella ou com a Universal. Foi um acordo político.

Outro problema em Salvador é a disputa entre PT e PMDB. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), cobrou do governador Jaques Wagner (PT) apoio à reeleição do prefeito peemedebista João Henrique (PMDB). Sem sucesso, chegou a ameaçar o fim da aliança entre os partidos na Bahia em 2010. O PT, no entanto, decidiu enfrentar a pressão do PMDB, e escolheu a candidatura do deputado Walter Pinheiro, que negocia com a deputada Lídice da Mata (PSB) a vaga de vice.

Em Fortaleza, pedetista entre tucanos e o presidente

Em Recife, todos os partidos de oposição ao prefeito João Paulo, do PT, decidiram lançar candidatos. E até o PCdoB, outro tradicional aliado dos petistas, vai concorrer. João Paulo só conseguiu o apoio do PSB, do governador Eduardo Campos, para seu candidato, o deputado estadual João da Costa (PT). Na oposição, o DEM lançou o ex-governador Mendonça Filho; o PMDB, o deputado Raul Henry; o PPS, o deputado Raul Jungmann; e o PSC, o deputado Carlos Eduardo Pereira, o Cadoca.

- Foi um erro tanta candidatura. Vamos fazer uma campanha fracionada e isso vai criar dificuldades para o segundo turno. As seqüelas já começam a aparecer - registrou Cadoca.

Em Fortaleza, aconteceu o que parecia impossível: o PSDB do senador Tasso Jereissati decidiu apoiar a candidatura da senadora Patrícia Saboya, do PDT. Resultado, o DEM lançou a candidatura de Moroni Torgan e o governador Cid Gomes (PSB) decidiu apoiar a reeleição da prefeita petista Luizianne Lins. Seu irmão, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), porém, já pediu permissão ao partido para apoiar a candidata do PDT, sua ex-mulher e mãe de seus três filhos. A briga é tamanha que a senadora Patrícia, apoiada pelos tucanos, disse ter conseguido de Lula a promessa que ele não fará campanha para Luizianne.