Título: Cenário de armadilha
Autor: Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2009, Mundo, p. 19

Análise da notícia

A sucessão na Unesco ameaça tornar-se uma armadilha para a diplomacia brasileira. Basta que a candidatura de Márcio Barbosa seja apresentada por algum dos países ¿ não são poucos nem desimportantes ¿ que resistem ao controverso ministro egípcio apoiado por decisão do Planalto e do Itamaraty. Depois de ter-se comprometido com Hosni Farouk, e por tabela com a Liga Árabe e a União Africana, o Brasil não terá escolha senão votar com ele, ainda que contra o pretendente brasileiro.

Nos cálculos do Planalto, entraram considerações estritamente políticas: com o senador Cristovam Buarque na parada, o governo quis evitar atritos ¿ Barbosa, tem a seu lado o governador Aécio Neves. Do ponto de vista do Itamaraty, descartada a opção brasileira, a aliança com árabes e africanos pareceu a saída de menor risco.

Reservadamente, diplomatas com bom trânsito no gabinete do chanceler respondem aos críticos lembrando que nos últimos anos, quando o país disputou (e perdeu) a OMC e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, foi chamado de ¿fominha¿ pelos mesmos que agora se indignam pela Unesco. Que, na avaliação dessas fontes, tem apelo simbólico bem maior que o peso real dos organismos econômicos. (SQ)