Título: Agenda ambiental urbana deverá ser fortalecida
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 08/06/2008, O País, p. 11

Secretária coordenou estudo sobre poluição do trânsito em cidades

BRASÍLIA. Num governo em que ministros fortes ainda vêem o licenciamento ambiental como obstáculo ao crescimento, falar em aquecimento global para forçar gigantes do setor elétrico a investir em usinas ecologicamente corretas pode parecer ingenuidade de pesquisadora recém-alçada ao poder. A secretária Suzana Kahn discorda. Ela diz que o lançamento da Política Nacional sobre Mudança do Clima, feito na quinta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mostra que o governo está cada vez mais preocupado com o problema.

- Isso mostra o interesse do presidente de levar o tema a sério. A luta contra o aquecimento global está prestigiada no Planalto - acredita Suzana, que ajudou a formular o projeto de lei antes mesmo de entrar no governo.

A nomeação da pesquisadora da Coppe é uma das faces de outra mudança anunciada na gestão Carlos Minc: o fortalecimento da agenda ambiental urbana. Antes de ser empossado, o ministro prometeu manter o empenho da antecessora na defesa da floresta, mas sem esquecer os 165 milhões de brasileiros que vivem fora da Amazônia e estariam mais preocupados com problemas como a falta de saneamento e a poluição de rios e lagoas. Suzana entrou para o seleto time do IPCC ao coordenar um estudo sobre a contribuição do trânsito nas grandes cidades para o aquecimento do planeta. No ministério, ela quer exigir que os veículos passem a sair da fábrica com etiquetas informando seu volume de emissão de carbono.

- Ninguém mais compra geladeira que emite CFC, um dos maiores destruidores da camada de ozônio. O governo já tem um programa de etiquetagem dos veículos pronto, mas ainda não conseguiu retirá-lo do papel - reclama a secretária, que também prepara um plano nacional para capturar gás metano dos lixões.

Governo poderia dar bons exemplos

A pesquisadora admite desconfiar das propagandas que prometem neutralizar emissões de carbono, mas diz que a badalação em torno do aquecimento global pode incentivar a iniciativa privada a investir em tecnologias mais limpas. Ao mesmo tempo, quer que o governo dê bons exemplos evitando o desperdício, comprando móveis de madeira certificada e adotando programas rigorosos para economizar energia nos prédios públicos. Animada com o desafio de emprestar sua experiência acadêmica à política, a secretária lembra que o consumidor individual também tem sua responsabilidade na elevação dos termômetros:

- As pessoas tendem a culpar o madeireiro, mas esquecem de verificar se o carvão vegetal do seu churrasco é fruto do desmatamento. (Bernardo Mello Franco)