Título: PT já negocia saída de Molon
Autor: Fernandes, Diana; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 09/06/2008, O País, p. 3

Partido pode apoiar Jandira no Rio, em troca da adesão do PCdoB à candidatura de Marta em SP.

OPT nacional começa hoje uma negociação interna para a retirada da candidatura do petista Alessandro Molon à prefeitura do Rio. A idéia da cúpula do partido, com apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é apoiar a ex-deputada Jandira Feghali (PCdoB), a que tem mais chances, no momento, entre os candidatos do campo da esquerda ligados ao governo federal. O desafio do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), é construir a aliança com o PCdoB sem criar novos traumas para o PT do Rio e para Molon, mas pensando na contrapartida do partido de Jandira em relação a Marta Suplicy em São Paulo.

Além dos acenos ao PCdoB, o próprio presidente Lula sugeriu aos dirigentes petistas a busca de alianças em torno de nomes mais fortes nas disputas municipais - vantagem que Jandira tem sobre Molon e que Marta tem sobre o pré-candidato do PCdoB, Aldo Rebelo, na capital paulista. Berzoini disse ontem que vai conversar com os petistas do Rio sobre a proposta do aliado, mas que nada será imposto.

- O PT foi procurado e vai fazer a consulta interna. Minha obrigação é evitar o racha no partido. Vamos tentar resolver com o PT local, sentar e conversar, mas sem ser autoritário - disse, confirmando que Lula tem participado das articulações. - O presidente Lula conversa, quer ajudar os aliados e o PT, mas essa não é a atividade central do presidente.

Berzoini disse que não sabe qual será a reação dos petistas do Rio, mas salienta que o ideal seria uma triangulação envolvendo ainda, além do Rio e São Paulo, o PSB e a disputa em Belo Horizonte. Mas o acordo com o PSB está mais distante, porque o PT nacional não aceita participar da aliança em torno do seu candidato na capital mineira, Marcio Lacerda, por causa da presença do PSDB na coligação. Em contrapartida, o PSB condiciona seu apoio a Marta a uma solução satisfatória para seu candidato em Minas.

- Gostaríamos de resolver essas questões e podemos abrir mão de candidaturas, mas não de princípios (não se coligar com o PSDB) - insiste Berzoini.

Para PT, Rio tem situação mais difícil

O entendimento no PT é que a situação mais complicada é no Rio, onde o candidato petista é fraco e pode haver resistência. Em Belo Horizonte, a idéia é tentar um acordo com o PSB, mas se não for possível, o PT lança um nome. E em São Paulo, a situação é considerada resolvida: o partido tem candidata forte e tempo suficiente na TV. É onde menos depende dos aliados.

Nesta semana, o presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), desembarca em Belo Horizonte para uma última tentativa de unir PT e PSDB em torno de Marcio Lacerda. Com o apoio do prefeito petista Fernando Pimentel, o PSB insistirá em ter os dois partidos na chapa.

- Temos clara a importância de ter o PSDB na chapa, e queremos o PT conosco. Não queremos colocar prazo para o PT ou qualquer outro partido. Há tempo. Em política, 20 dias é muito tempo - disse Campos.

Em São Paulo, Aldo foi informado da ação conjunta do PT e PCdoB e sinalizou que não pretende ceder à pressão facilmente. Marta Suplicy teria sido muito inábil ao deixar clara a preferência pelo apoio do PMDB, avisando que o partido teria o vice na chapa. Depois que as negociações com o PMDB falharam, em vez de procurar os dirigentes do PSB, os petistas conversaram com Luiza Erundina, do PSB, que chegou a anunciar que aceitaria ser vice de Marta.

Líder do PT na Câmara e integrante da Executiva Nacional, Maurício Rands (PE) defende concessões de todos os lados. Mas, para os aliados de Marta, a disputa em São Paulo não está relacionada a outras capitais.

- Não vejo uma briga por alianças a qualquer custo, isso não é bom para os partidos. Podemos seguir juntos no segundo turno - afirmou o deputado Cândido Vacarezza (PT- SP).

Nos bastidores, os petistas acreditam que, apesar da resistência inicial, Aldo acabará desistindo em favor de Marta. A pressão viria de candidatos a vereadores do partido. Aldo, nas primeiras pesquisas de intenção de votos aparece com 1%, e Marta, 30%. Nas negociações, o PT poderia oferecer, por exemplo, a presidência da Câmara de Vereadores ao PCdoB.

Com o Bloquinho (PDT, PCdoB e PSB), a candidatura de Marta aumentaria o tempo na TV, passando de quatro para sete minutos (Kassab, com o PMDB, tem mais de nove minutos, e Alckmin, com o PTB, tem em torno de sete minutos).

O presidente do PT em São Paulo, Edinho Silva, confirma ter sido procurado pelo PCdoB para tentar o acordo envolvendo Molon, Jandira, Marta e Aldo:

- Eles nos procuraram fazendo essa proposta depois que o PMDB deixou de apoiar Molon, mas temos que respeitá-lo. É uma liderança emergente, não podemos atropelá-lo. O mesmo acontece em São Paulo. Aldo mantém a candidatura, e temos que respeitar.

Os articuladores de Marta conversam com os partidos do Bloquinho em separado e já negociam a adesão do PDT do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, investigado por envolvimento com a quadrilha que cobrava propina para intermediar empréstimos do BNDES.