Título: O melhor é apressar a exploração do pré-sal
Autor: Ordoñez, Ramona; Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 08/06/2008, Economia, p. 41
Quando o Brent desabou para US$10 o barril em fevereiro de 1999, há apenas nove anos, a revista "The Economist" conjecturou que os preços iriam cair mais ainda, para US$5 o barril. Para o bem dos produtores de petróleo, isto não aconteceu e, na verdade, os preços não pararam de subir desde então e, um ano depois, já estava US$30 o barril. O resto vemos agora. Com ligeiras baixas e altas, o Brent está nos US$130. Vai chegar a US$200? Quando? E aí?
Os choques anteriores tiveram fortes componentes políticos. A conjuntura atual é bem mais complexa, com a globalização e as mudanças significativas no cenário mundial, com o crescimento acentuado da China e de outros países emergentes, a consolidação da União Européia, a forte presença da Rússia no mercado de petróleo, um mercado de futuros mais dinâmico, os problemas com a economia dos EUA, maior consumidor mundial de petróleo. Nesse quadro, o crescimento acentuado do consumo de commodities e de alimentos interage com o aumento dos preços de petróleo, com reflexos inflacionários e, como pano de fundo, a desvalorização do dólar em relação ao euro e a outras moedas e, mais acentuadamente, em relação ao real. Acho até que o desequilíbrio nas relações demanda/suprimento de petróleo é o fator menos relevante.
Mas temo que previsões opostas às da revista também possam ocorrer no aumento de preços deste nosso exercício. Será que o petróleo vai mesmo para US$200, num futuro imediato? Mas este não é o exercício. O que aconteceria com a economia mundial e a brasileira se esse cenário se materializasse? Na verdade, como o petróleo é referenciado ao dólar, a primeira reação de mercado ao seu aumento excessivo, é a sua desvalorização. Mas esse fator acaba sendo mais complexo ainda, por causa dos ajustes cambiais, que estão sujeitos a outras variáveis que afetam as moedas de forma diferenciada. Em 2007, o barril, expresso em dólares, aumentou 69%. No mesmo período, o euro se valorizou 12% em relação ao dólar e o real 25%. Portanto, tudo muito ruim para o consumidor americano, mas nem tão mal para o europeu, cujos preços aumentaram 57% e menos mal ainda para os brasileiros, com aumento de "apenas" 36%.
Seja como for, acho que os efeitos na economia mundial serão muito negativos. Quanto a nós, é melhor nos prepararmos para esse barril de US$200. O que fazer? Reabrir logo a oitava rodada. Apressar a exploração das áreas do pré-sal, de forma competitiva, sem afugentar os investidores. Assim, poderíamos em dez anos nos tornar um grande exportador.
WAGNER FREIRE é presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás