Título: Tudo resolvido, nada certo
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 10/06/2008, O País, p. 3

PMDB aprova candidatura própria, mas não sabe de quem, e dá apoio "a fórceps" a Garotinho

Odiscurso aparentemente era unificado. Mas diante de faixas estampando um "Fora, Eduardo Paes", o presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, capitulou ontem e derrubou a aliança com o DEM do prefeito Cesar Maia. Cedeu depois de conseguir aprovar, no diretório regional, uma nota de solidariedade - lida pelo secretário-geral do PMDB, Jorge Picciani - em desagravo à denúncia por formação de quadrilha armada, feita contra ele pelo Ministério Público Federal. O documento classifica de "desatino" a "tentativa" de envolver o ex-governador em um "processo contra policiais do estado". Com a adesão de Garotinho e dois dias depois de descartar a parceria com o PT, o PMDB sepultou a aliança com o DEM.

No próximo dia 22, os peemedebistas se reúnem para escolher entre o ex-secretário de Esporte e Lazer Eduardo Paes, o deputado federal Marcelo Itagiba e o presidente do Sindicato dos Artistas, Jorge Coutinho. Apesar de apoiado agora por Picciani (que antes era contra seu nome) e pelo governador Sérgio Cabral, Paes ainda enfrenta resistência no partido. A argumentação de seus opositores é que sua pré-candidatura é frágil: a desincompatibilização, feita com data retroativa no Diário Oficial, poderia levá-lo à impugnação. Isso acabaria favorecendo a candidatura de Marcelo Crivella (PRB), da base do governo Lula.

Cabral e Paes não foram à reunião

A convenção será também um teste para o poder de fogo de Cabral no interior do estado. No encontro, votarão 160 delegados do partido, em regime secreto. A decisão será tomada pelo baixo clero, em parte descontente com o governador, que manteve a política de evitar indicações na maioria das secretarias. As idas e vindas de Picciani, que mudou de posição pelo menos três vezes no processo pré-eleitoral do PMDB, também deixou seus aliados desconfiados. Cabral e Paes não foram à reunião de ontem.

Ao anunciar a "unidade" em torno da candidatura própria, Garotinho protestou contra o fim da aliança com o DEM. Disse que o DEM cumpriu sua parte no acordo com o PMDB, firmado em setembro passado, e fez ajustes nos diretórios de São Gonçalo, Duque de Caxias e Campos para apoiar os peemedebistas. O ex-governador lembrou que o partido registrou, em ata, que, caso decidisse por candidatura própria, o nome seria o do deputado federal Marcelo Itagiba.

- Conseguimos aprovar uma resolução que foi o consenso dentro do dissenso. O que posso dizer é que foi difícil - disse Picciani.

Garotinho usou a tribuna do PMDB para acusar o PT de manipular a Polícia Federal. Há dez dias, policiais federais cumpriram mandado de busca e apreensão na casa do ex-governador, no Cosme Velho, Zona Sul do Rio. Ele afirmou que há 40 dias fora informado que seria envolvido "de forma abstrata" na Operação Segurança Pública S/A. No mesmo dia em que foi anunciada a denúncia contra Garotinho, o ex-chefe de Polícia Civil do estado Álvaro Lins foi preso pela Polícia Federal por suspeita de lavagem de dinheiro. A Assembléia, em seguida, libertou Álvaro Lins da cadeia

- A PF não pode ser a polícia do PT. A polícia não pode ser política - acusou Garotinho, que também negou que Rosinha e ele tivessem recebido dinheiro do jogo do bicho, como mostra relatório da PF publicado pelo GLOBO. Garotinho disse que "madame" seria a mulher de Rogério Andrade, Verônica Barbosa Garrido, ou mesmo Elizabeth Andrade, viúva do filho de Castor de Andrade. As duas, porém, aparecem com seus nomes no relatório da PF.

COLABOROU: Dimmi Amora