Título: Como subir no palanque do Molon se Crivella, meu amigo, está na disputa?
Autor: Gois, Chico de; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 10/06/2008, O País, p. 4

Lula comanda reunião ministerial que mostrou divisão no governo sobre eleição

BRASÍLIA. A reunião ministerial para tratar da participação de ministros na campanha eleitoral dividiu a equipe do governo Lula. Preocupado com prováveis reflexos da disputa no Congresso, o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) propôs que a participação de ministros ficasse restrita a seus estados. Sua proposta foi apoiada por alguns ministros, entre eles o advogado-geral da União, José Antonio Tofolli, mas contou com forte resistência dos ministros políticos, inclusive do PT.

Diante do impasse, uma nova reunião foi agendada para a próxima semana, depois de o presidente Lula e Múcio ouvirem o Conselho Político, que reúne líderes e dirigentes dos 14 partidos da base. Mas outras orientações foram dadas aos ministros. Tofolli alertou que a partir de hoje, prazo para o início das convenções partidárias, todos devem redobrar os cuidados: estão proibidos, por exemplo o uso de aviões da FAB e carros oficiais para ir a eventos do partido. Tofolli recomendou que eles evitem até pegar carona em eventos oficiais para, depois, participar de campanhas.

Sobre a presença nos palanques municipais, quando o assunto foi colocado rapidamente dois grupos se formaram. De um lado, Múcio, Nelson Jobim (Defesa) e Franklin Martins (Secretaria de Comunicação), além do advogado-geral da União, argumentaram que, fora dos seus estados, esses ministros poderiam criar problemas para a base aliada e ainda infringir algum item da legislação eleitoral.

Lula quer preservar base

Mas a restrição foi duramente contestada pelos ministros políticos, principalmente por Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), do PMDB, Orlando Silva (Esportes), do PCdoB, Luiz Dulci (Secretaria Geral), do PT, e Márcio Fortes (Cidades), do PP. Eles alegaram que representam partidos no governo, e que, por isso mesmo, deveriam ajudar suas legendas nas cidades em que fossem convidados.

- Desse jeito, só quem poderá participar da campanha eleitoral este ano será o Mangabeira Unger, e mesmo assim para fazer a campanha do Barack Obama - brincou Geddel, arrancado gargalhadas de Lula.

O presidente, que é simpático à proposta de Múcio mas quer ouvir outras opiniões, deixou claro que não vai subir em palanque nem participar de programa eleitoral onde os aliados estiverem em disputa. Para justificar a sua posição, citou os exemplos de Rio e São Paulo.

- Como vou subir no palanque do (Alessandro) Molon e fazer campanha para ele no Rio se o Crivella, meu amigo, está na disputa? Ele é meu correligionário, sempre me ajuda em tudo. Não posso fazer isso - disse Lula. - Em São Paulo, só posso ir apoiar a Marta se não tiver encrenca. Se o Aldo (Rebelo) for candidato, não poderei ir.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), explicou que a preocupação é com a divisão da base:

- O presidente quer preservar a integridade da base, se possível nas coligações. Se isso não for possível, que pelo menos o relacionamento político com os aliados seja preservado de parte a parte sem ataques.

Lula quer uma mudança de postura neste ano. Ele lembrou que em 2004, quando ministros tomaram partido, enfrentou problemas na base. E não quer que isso ocorra novamente.

O vice-presidente José Alencar perguntou sobre o uso de seguranças da Presidência em eventos políticos. Toffoli explicou que o segurança pode acompanhar os ministros, mas não pode fazer campanha. Alencar indagou, arrancando risos:

- Aplaudir discurso pode?

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, do PMDB do Rio, quis saber: se estiver inaugurando uma ala de um hospital e um candidato aparecer e se postar ao seu lado, ele (o ministro) será punido? Toffoli explicou que ele pode inaugurar, desde que não convide o candidato. E que se o candidato aparecer, ele não será responsabilizado, mas o candidato poderá ser punido.