Título: Promotor acusa Metrô de SP; Consórcio nega
Autor: Carvalho, Cleide
Fonte: O Globo, 10/06/2008, O País, p. 12

SÃO PAULO. O promotor Arnaldo Hossepian, responsável pela investigação do desabamento da Estação Pinheiros do Metrô, afirmou ontem que o laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) atesta que a velocidade de escavação do túnel havia sido aumentada em 70% em janeiro de 2007, poucos dias antes da tragédia que matou sete pessoas. Além disso, segundo ele, em 8 de janeiro, quatro dias antes do desabamento, ocorrido no dia 12, fora percebido um afundamento no túnel que vinha sendo aberto por meio de explosões:

¿ No dia 8, começou-se a perceber que havia uma envergadura no túnel. No dia 11, houve uma reunião na qual ficou decidido que era necessário fazer furos e colocar tirantes. Os furos foram feitos, os tirantes não foram colocados e a obra e as explosões continuaram.

O laudo do IPT aponta 11 causas para o surgimento da cratera. Segundo Hossepian, além de não ter sido feito o reforço de segurança do túnel, a obra manteve o ritmo acelerado. Depoimentos de testemunhas mostram que houve uma explosão a mais do que a admitida pelo Consórcio Via Amarela, ocorrida pouco antes do desabamento.

Hossepian diz que hoje é secundário saber se aqueles que negligenciaram na segurança agiram ou não por razão política, para atender a algum pedido de aceleração da obra. Mas não descarta a hipótese:

¿ A Estação Pinheiros era uma vitrine da Linha 4. O problema passou despercebido por várias esferas de poder.

O IPT diz que o modelo geológico do local não foi levado em consideração e que havia água no solo enquanto o projeto previa construção em terreno seco. Afirma que foi realizado o aprofundamento de uma rampa, não prevista no projeto, o que aumentou a exposição das paredes dos túneis. E que o sentido de escavação foi invertido e não seguiu o projeto inicial. As detonações feitas no dia 12 de janeiro fizeram vibrar a estrutura.

Consórcio, Metrô e governo não serão processados

Para o IPT, houve deficiência na fiscalização feita pelo Metrô, e o Consórcio Via Amarela não tinha gestão de risco. Não havia também um plano de emergência em caso de acidente.

O promotor adianta que essa investigação não vai resultar em processo contra o Consórcio Via Amarela, contra o Metrô ou contra o governo do estado de São Paulo, responsável pela obra:

¿ Serão responsabilizadas as pessoas físicas, de acordo com sua participação.

Segundo ele, a caracterização deve ser de crime culposo, quando não há intenção de matar ¿ com a pena máxima de 4 anos, sem reclusão, podendo chegar a 6 anos. Para ele, o laudo do IPT, de 29 volumes, acrescido de dois CDs, confirmou as constatações feitas pela polícia e pelo Ministério Público.

O Consórcio Via Amarela divulgou nota afirmando que ¿rechaça veementemente¿ as afirmações do IPT sobre aceleração do cronograma da obra. E acusa o IPT de ter defendido seu próprio trabalho, feito na década de 90 e contratado pelo Metrô. Segundo o Consórcio, está na avaliação do solo, feita pelo instituto, a possibilidade de ser encontrada a ¿causa principal¿ do acidente. O Consórcio diz que tinha plano de emergência, que teria sido usado em duas ocasiões, sendo em que em apenas uma delas houve sinistro, o desabamento de uma casa na rua Amaro Cavalheiro).