Título: Em Passo Fundo, confronto com soldados
Autor: Oliveira, Germano
Fonte: O Globo, 11/06/2008, O País, p. 3

Indústria de alimentos suspende produção; manifestantes bloqueiam estrada em divisa

PORTO ALEGRE. Cerca de 800 integrantes da Via Campesina invadiram ontem o pátio da Indústria de Alimentos Bunge, em Passo Fundo, a 280 quilômetros da capital gaúcha, e entraram em conflito com soldados da Brigada Militar. No confronto, sete colonos foram feridos com balas de borrachas, segundo representantes da Via Campesina. Foi bloqueada também a estrada principal que dá acesso à Usina Hidrelétrica Itá, que pertence ao grupo Suez-Tractebel, em Aratiba, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.

A desocupação das instalações da Bunge aconteceu depois que os manifestantes foram identificados pela Polícia Civil. Em Aratiba, os colonos continuaram bloqueando a RS-40. Tanto a ação em Passo Fundo como a de Aratiba foram justificadas pela Via Campesina como protesto contra o modelo de desenvolvimento do agronegócio e do investimento de transnacionais na construção de barragens e indústrias de celulose.

Por causa da invasão, a Bunge suspendeu a produção de soja e óleo refinado na unidade de Passo Fundo. Em nota, a companhia disse que acionou a polícia para proteger funcionários e manifestantes. O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Paulo Roberto Mendes, que participou da negociação da desocupação, disse que a corporação só fez cumprir a lei e não cometeu nenhum excesso.

O confronto começou quando um caminhão carregado com hortigranjeiros, que seriam utilizados na alimentação dos manifestantes e também na distribuição à população, foi barrado por um pelotão de choque da Brigada Militar. Oito ônibus usados para levar os manifestantes também foram apreendidos e os motoristas dos veículos, levados para a delegacia.

Os manifestantes tentaram liberar o veículo, provocando o início do conflito, e a Brigada Militar disparou balas de borracha. Houve pânico, mas os manifestantes não deixaram o pátio da empresa. Segundo Plínio Simas, líder do movimento, pelo menos sete agricultores ficaram feridos. Em Aratiba, os manifestantes chegaram de ônibus, monitorados por cerca de 35 policiais da Brigada Militar. Na casa de força da usina, nenhuma atividade de geração foi interrompida. Os manifestantes construíram barracas às margens da rodovia, onde pretendem ficar até o fim da mobilização, prevista para durar três dias.