Título: MST espalha violência pelo país
Autor: Oliveira, Germano
Fonte: O Globo, 11/06/2008, O País, p. 3

Movimento comanda invasões e depredações de empresas públicas e privadas em 13 estados

Comandados pelo Movimento dos Sem Terra (MST), militantes da Via Campesina e da Assembléia Popular fizeram ontem protestos violentos em pelo menos 13 estados. Eles invadiram empresas públicas e privadas - entre elas a sede da Votorantim, em São Paulo -; interromperam o tráfego numa estrada de ferro usada pela Vale, em Minas; ocuparam a ante-sala do centro de comando da usina hidrelétrica do São Francisco (Chesf), em Sobradinho, na Bahia; destruíram um laboratório da Universidade Federal de Pernambuco e interromperam o trabalho do Porto de Pecém, no Ceará.

Na Votorantim e na Chesf, portas de vidro foram quebradas durante as invasões. No Rio Grande de Sul, a Brigada Militar reagiu à invasão da indústria de alimentos Bunge, e sete manifestantes ficaram feridos. Em nota, a Via Campesina alegou que os protestos serviram para "denunciar os problemas causados pela atuação das grandes empresas no país, especialmente as estrangeiras, que são beneficiadas pelo modelo do agronegócio e pela política econômica neoliberal". Houve atos em Pernambuco, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Tocantins, Rondônia e Alagoas.

Em São Paulo, aproximadamente 500 pessoas ocuparam as instalações da empresa de Antonio Ermírio de Moraes, no centro da capital, durante 40 minutos. A PM precisou usar 300 policiais com bombas de gás de pimenta, cassetetes e até tiros com balas de borracha para desocupar o prédio. Quatro sem-terra ficaram feridos. Os manifestantes quebraram os vidros da porta de entrada. Eles protestaram contra a construção pela Votorantim da Hidrelétrica do Tijuco Alto, no Vale do Ribeira (SP), que deve inundar cavernas e áreas agricultáveis.

Sem-terra detidos em São Paulo

Os sem-terra impediram a entrada de 80 funcionários, que ficaram na calçada. A PM usou bombas de efeito moral para liberar a entrada. Cinco manifestantes da Via Campesina foram detidos e levados para o 3º DP (Santa Ifigênia). Eles vão responder por danos ao patrimônio. Em nota, a Votorantim disse que em seus 90 anos "tem sua trajetória marcada pelo respeito a toda e qualquer manifestação democrática". E completa: "O grupo sempre esteve aberto ao diálogo com todos os setores da sociedade, no entanto, considera inaceitável práticas que violem as leis vigentes do país". Antonio Ermírio seria homenageado ontem pelo presidente Lula com a medalha do mérito Oswaldo Cruz, mas, por causa da confusão, mandou o filho Rubens representá-lo.

Em Minas, cerca de 300 pessoas, com faixas e carros de som, bloquearam por seis horas trecho da ferrovia Centro Atlântica, na altura do bairro São Geraldo, em Belo Horizonte, para denunciar problemas causados pela passagem dos trens. Foi suspensa a saída da composição de passageiros da Estrada de Ferro Vitória-Minas e paralisados treze trens de carga. O ato ocorreu no local onde será implantado o projeto, segundo a Centro Atlântica, para a melhoria das operações ferroviárias e o acesso de pedestres e veículos. A Vale classificou a ação como criminosa, mas afirmou estar disposta a executar as obras reivindicadas.

Em Sobradinho (BA), cerca de 500 integrantes de vários movimentos sociais invadiram a área de controle da Chesf, por volta das 5h30m, e só deixaram o local às 13h. O grupo chegou em dez ônibus e, logo ao entrar, quebrou a barra de segurança no portão de acesso e arrombou as portas no saguão da sala de controle, deixando os funcionários retidos no escritório da companhia. Com facões, eles protestaram contra a transposição do Rio São Francisco, a construção de barragens e o atual modelo agrícola. A direção da Chesf preferiu não se pronunciar.

COLABORARAM: Cristina Laura, da Agência A Tarde; Fabiano Nunes, do Diário de S.Paulo; e Itamar Mayrink