Título: Déficit externo não é projetável
Autor: Schreiber, Mariana ; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 11/06/2008, Economia, p. 26

Os números da economia do início do ano trouxeram um alerta para as contas externas, segundo o economista da UFRJ Caio Prates. "Com a demanda interna subindo acima do PIB há piora nas contas externas. O déficit subiu dois pontos percentuais do PIB em um ano. Assim, fica impossível projetar, numa escalada que chegaria a 5% em 2010".

Cássia Almeida

Qual o risco de o consumo doméstico estar subindo acima do PIB?

CAIO PRATES: Nada indica que o consumo interno vai recuar. Assim, as importações sobem mais que as exportações, piorando a conta corrente de maneira muito forte. Essa situação não é sustentável.

O déficit em transações correntes (comércio de bens e serviços do país com o resto do mundo) já fez o Brasil ter que subir juros para conter a economia várias vezes. Corremos esse risco agora?

PRATES: Será necessário manter a demanda doméstica crescendo menos e fazer pequena desvalorização cambial. Um suave deslizamento. Não acontecerá este ano, mas terá que ser feito no ano que vem e em 2010.

O Banco Central vem subindo juros para conter a demanda e evitar inflação. Isso não será suficiente?

PRATES: Ainda não é adequado para o ajuste que precisa ser feito. Para essa diferença (o consumo interno respondia por 97,3% do PIB no início de 2007, agora passou para 99,1%) não basta que a demanda desacelere. As importações estão muito maiores que a exportações, isso indica que é necessária uma correção no câmbio.

Por que o senhor acha que o ajuste não acontecerá este ano?

PRATES: Temos juros e condições para atrair mais dólares para fechar as contas. Por isso, o ajuste não deve se efetivar este ano. Porém, é inevitável nos próximos.