Título: Construção civil cresce 8,8%, na maior expansão em quatro anos
Autor: Schreiber, Mariana ; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 11/06/2008, Economia, p. 26

AINDA UM PIBÃO: Segmento teve o melhor desempenho na indústria

Crédito, alta da renda e juros menores dão impulso a mercado imobiliário

Mariana Schreiber, Luciana Rodrigues e Cássia Almeida

O crescimento da construção civil foi um dos principais fatores que contribuíram para o aumento do PIB no primeiro trimestre do ano. O setor avançou 8,8% na comparação com os primeiros três meses de 2007, a maior variação desde o segundo trimestre de 2004 (10,6%). A construção civil foi o segmento que mais cresceu na indústria. E ainda contribuiu para a alta dos investimentos no PIB.

O setor viu sua expansão se acelerar nos últimos meses: o crescimento foi de 5% no terceiro trimestre de 2007, de 6,2% no fim do ano passado e de 8,8% neste início de 2008. Segundo analistas e o próprio IBGE, o resultado foi influenciado principalmente pela maior oferta de crédito habitacional, que cresceu 24,6% no período.

-- O mercado imobiliário representa mais de 50% da construção civil, e é ele que vem impulsionando o setor - afirma o presidente interino da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Adalberto Cleber Valadão.

Setor prevê forte expansão em 2008

Rodolpho Vasconcelos, diretor da empresa de crédito imobiliário Domus, destaca que, além da queda dos juros, contribuiu para o aumento do crédito habitacional a expansão dos prazos de pagamento, que hoje chegam a 30 anos. Ele cita ainda o aumento da renda e a estabilidade econômica, que permitiram um maior endividamento das famílias.

Segundo dados do Sistema Financeiro de Habitação, 54,7 mil imóveis foram comprados com financiamento da poupança entre janeiro e março deste ano, uma alta de 58% frente ao início de 2007. O presidente da imobiliária CHL, Rogério Chor, só tem a comemorar:

- O primeiro trimestre foi espetacular. Vendemos R$180 milhões em imóveis, metade do valor que comercializamos em todo o ano passado.

O presidente do Sindicato da Construção Civil do Rio, Roberto Kauffmann, lembra que, para atender a crescente demanda por imóveis, as construtoras vêm se capitalizando na Bolsa de Valores de São Paulo. Em 2007, 16 empresas captaram R$8,5 bilhões com lançamento de ações no mercado, uma alta de 136% na comparação com os R$3,6 bilhões levantados no ano anterior, por seis companhias.

E a previsão é que o setor de construção civil, principalmente o residencial, continue em forte expansão: o déficit habitacional do país é estimado em 8 milhões de imóveis.

A construção civil ajudou na alta de 15,2% da formação bruta de capital fixo, que são os investimentos em compra de máquinas e em obras residenciais, de infra-estrutura e industriais. Segundo o IBGE, as obras do PAC já aparecem nesse número. Marcelo Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca que, desde 2005, os investimentos crescem com força, mas acredita que vêm principalmente do setor privado.

Ipea: investimentos crescem sem ampliar capacidade

Porém, lembra Nonnenberg, os indicadores da indústria mostram que a utilização da capacidade instalada nas fábricas ainda está próxima de seus picos históricos, em torno de 83%.

- Esse surto de investimento não está resultando em aumento da capacidade da indústria. É possível que boa parte disso seja para repor depreciação (gastos com o uso ao longo dos anos das máquinas) e para modernizar o parque produtivo. A modernização é positiva, mas é preciso ampliar capacidade - diz Nonnenberg.

Com a forte expansão no primeiro trimestre, os investimentos ganharam peso de 18,3% no PIB - é a maior taxa para esse período desde 2000. Mas o economista Joaquim Elói Cirne de Toledo, diretor do Nossa Caixa, faz uma ressalva: é preciso descontar a depreciação do parque produtivo brasileiro, que fica em torno de 8% a 12%. Com isso, a taxa de investimento ficaria em apenas 10% do PIB, o que permitiria à economia brasileira crescer a um ritmo de entre 3% e 4% ao ano.