Título: PSOL pede impeachment de Yeda
Autor: Braga, Isabel; Barbosa, Adauri Nunes
Fonte: O Globo, 11/06/2008, O País, p. 8

Presidente do PSDB diz que vice-governador gaúcho prestou "serviço sujo"

PORTO ALEGRE e BRASÍLIA. A decisão da governadora Yeda Crusius (PSDB) de formar uma força-tarefa com participação do Ministério Público para investigar possíveis irregularidades em sua administração provocou sua primeira medida concreta ontem: os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado decidiram investigar o presidente da corte, João Luiz Vargas. A medida foi tomada por unanimidade. Será aberto um "procedimento de apuração".

Vargas teve o nome citado nas escutas telefônicas realizadas pela Polícia Federal, durante a Operação Rodin, que investigou desvio de R$40 milhões do Detran gaúcho. Ele tem 30 dias para apresentar sua defesa. Depois desse prazo, a corregedoria do TCE decidirá sobre a abertura de um processo.

Ex-deputado estadual, Vargas já se ofereceu para depor na CPI do Detran, na Assembléia Legislativa, e disse que não vê motivos para se afastar:

- Meus colegas podem investigar à vontade que não acharão nada contra mim.

Ontem, liderado pela deputada federal Luciana Genro, o PSOL gaúcho protocolou na Assembléia Legislativa um pedido de impeachment de Yeda Crusius. O partido alega que a governadora não negou afirmações do ex-chefe da Casa Civil Cézar Busatto sobre o financiamento de partidos políticos por órgãos do governo. Por causa das declarações, gravadas pelo vice-governador Paulo Feijó (DEM), adversário pessoal de Yeda, agravou-se a crise no estado e Yeda anunciou anteontem a criação de um gabinete de transição que irá promover mudanças no secretariado.

Pivô da crise, o vice-governador Paulo Feijó, disse ontem que poderá divulgar o restante do conteúdo da conversa gravada que teve com Busatto. Feijó afirmou também que o empresário Lair Ferst, filiado do PSDB gaúcho e um dos principais acusados pela PF, atuou na arrecadação de campanha da governadora, fato negado pelos tucanos:

- O Lair Ferst freqüentava quase diariamente o comitê e ajudou, sim, na captação de recursos para a campanha.

DEM muda o tom e pode manter Feijó no partido

Depois de anunciar que poderia expulsar Feijó de seus quadros, o DEM mudou o tom e não deve adotar medida tão drástica. O presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia (RJ), pretende conversar hoje com Cézar Busatto. O destino do vice-governador só deverá ser decidido em reunião da executiva nacional do DEM, marcada para amanhã, mas os dirigentes do PSDB continuam revoltados com o comportamento de Feijó:

- Esse Feijó é um antiético que quer o lugar da Yeda. Se prestou a um serviço sujo e ilegal - atacou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).

Numa conversa mais reservada, no Senado, Guerra disparou xingamentos ao gaúcho. Mas reconhece que as denúncias feitas por Feijó têm de ser apuradas:

- A denúncia feita, com fita ou sem fita, tem de ser investigada. Mas não podemos nos envolver com aliados e políticos desse tipo. A atitude do vice não condiz com as relações que temos como os democratas.