Título: Nunca antes na história do país: Itamaraty pára
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 11/06/2008, O País, p. 10
Oficiais e assistentes de chancelaria organizam passeata na Esplanada dos Ministérios para pedir aumento salarial
BRASÍLIA. Oficiais e assistentes de chancelaria no Brasil e no exterior realizaram ontem, pela primeira vez na história do Itamaraty, uma paralisação de 24 horas. O objetivo do movimento, marcado por manifestações e uma passeata na Esplanada dos Ministérios ao som de "Apesar de você", de Chico Buarque, foi tentar demonstrar que o Ministério das Relações Exteriores não é composto somente por diplomatas.
De olho na redução da diferença de salários entre os servidores da chancelaria e diplomatas - que chegaria a 94,6% na relação diplomatas x oficiais e 300% quando entram os assistentes, conforme representantes dos servidores - as duas categorias alertaram, na véspera, que a paralisação prejudicaria serviços como emissão de passaporte para brasileiro no exterior, assistência a brasileiros lá fora e visto para estrangeiros que visitam o Brasil. São 838 oficiais (com curso superior) e 624 assistentes, de nível médio. Metade deles está em embaixadas, consulados e outros postos.
Segundo fontes do Itamaraty, os oficiais de chancelaria não deverão sair de mãos vazias. Um dia antes da paralisação, na segunda-feira passada, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pediu a seu colega do Planejamento, Paulo Bernardo, na segunda-feira passada, que estudasse uma forma de atender às reivindicações das duas categorias. O Planejamento concordou em conceder um reajuste em torno de 40%, correspondente a perdas anteriores. Os assistentes, que pedem um aumento de 170%, terão seu caso analisado num segundo momento.
O Itamaraty não quis comentar o impacto da paralisação nos serviços prestados, principalmente, no exterior. No entanto, segundo nota divulgada no final da tarde de ontem pelos dirigentes do movimento, às 10h de ontem a greve já contava com a adesão de 500 servidores somente no Brasil. Os representantes das duas categorias informaram ainda que mais de 87 postos, entre embaixadas, consulados gerais, delegações e escritórios de representação haviam aderido.
Segundo a associação que representa os oficiais de chancelaria, já existe um acordo firmado com o Itamaraty que prevê que um oficial em fim de carreira teria um salário de R$9,2 mil e o de um assistente, de R$7 mil. No entanto, as maiores faixas estão em, respectivamente, R$6 mil e R$2,9 mil. No Ministério das Relações Exteriores, não se descartava ontem a realização de mais uma reunião para que as negociações sejam retomadas.
Fontes revelaram que a idéia é discutir alternativas para melhorar a remuneração, sem que com isso seja acolhida a reivindicação relativa à equiparação com a carreira de diplomata. A despeito da intervenção direta de Celso Amorim na questão, quem permanecerá à frente das negociações, pelo Itamaraty, é o secretário-geral do órgão, Samuel Pinheiro Guimarães.