Título: Para analistas, BC poderá subir mais os juros
Autor: Rodrigues, Luciana ; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 11/06/2008, Economia, p. 27
AINDA UM PIBÃO: Meirelles afirma que "política monetária e fiscal responsável é o único caminho" do crescimento
Crescimento forte do PIB pode dificultar controle da inflação. Empresários são contra aperto maior do Banco Central
Luciana Rodrigues, Cássia Almeida, Martha Beck e Aguinaldo Novo
RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO. O crescimento robusto da economia brasileira neste primeiro trimestre tornará ainda mais difícil a tarefa do Banco Central (BC) de manter a inflação no centro da meta deste ano, que é de 4,5%. Os economistas avaliam que, depois do resultado do PIB, aumentam as chances de o BC subir mais os juros - hoje em 12,25% ao ano - ou de mantê-los altos por mais tempo.
- A demanda está mais forte do que o esperado. Da próxima vez, o BC terá que subir os juros 0,75 ponto percentual, pelo menos - prevê o economista Nélson Carneiro, da Austin Rating.
Para Marcelo Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os números do PIB reforçam a avaliação de que a inflação tem subido não só devido à alta das commodities, mas também por causa de pressões de demanda. Joaquim Elói Cirne de Toledo, diretor do Nossa Caixa, prevê que a expansão rápida da economia deve se manter, o que será "uma péssima notícia para os juros":
- O Banco Central pode subir os juros mais ainda.
Para Caio Prates, da UFRJ, não deve haver um aperto monetário maior que o que já estava sendo previsto, porque ele espera um freio na economia no segundo semestre.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, aproveitou o resultado do PIB para defender a política monetária. Em nota, afirmou que "o resultado do PIB é mais uma demonstração de que uma política monetária e fiscal responsável é o único caminho pra garantir o crescimento sustentável do país".
Enquanto isso, empresários e analistas ligados ao setor produtivo destacam a desaceleração do PIB no primeiro trimestre para rechaçar um aperto monetário ainda mais forte. O dado mais citado foi o freio no consumo das famílias: depois de subir 8,6% no último trimestre de 2007, a taxa recuou para 6,6%. Ao mesmo tempo, o investimento cresceu com mais força.
- Esses dois fatores, a acomodação do PIB e a aceleração de investimentos podem levar o BC a abreviar sua política de alta de juros - afirma Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o desempenho positivo do PIB deverá se repetir neste segundo trimestre. Mas o seu presidente, Armando Monteiro Neto, diz temer o efeito de um aperto maior nos juros. Já o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, atacou a alta dos impostos:
- O crescimento (da arrecadação de impostos) foi de 8%, enquanto o do PIB foi de 5,8%.
Ao comentar o crescimento do PIB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez questão de destacar o freio no consumo das famílias. Segundo ele, isso reduz a pressão sobre a inflação, pois equilibra mais a oferta e a demanda - umas das justificativas do BC para a alta de juros:
- Nós temos uma convergência maior entre a demanda, que é o consumo das famílias, e a oferta, que é o investimento.
Para Planejamento, crescimento é sustentável
O ministro também disse que o aumento dos gastos do governo não reflete o comportamento das despesas da União. O IBGE considera também despesas de estados e municípios. Segundo Mantega, a União está fazendo um superávit fiscal primário maior que estados e municípios, o que tem contribuído para o controle da inflação. Ele afirmou que o crescimento do PIB este ano caminha para 5%, contra 5,4% no ano passado:
- Era desejável uma ligeira desaceleração. É jogar um pouco de água na fervura.
Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o crescimento do consumo das famílias não é um sinal de alerta para a inflação.
- Os números são altos, mas se olharmos para o investimento é quase o dobro. A economia está crescendo de maneira sustentável.
COLABORARAM: Gustavo Paul e Patrícia Duarte