Título: Agora, ele vai se lixar em outro lugar
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 14/05/2009, Política, p. 2

Presidente do Conselho de Ética destitui Sérgio Moraes da relatoria do caso Edmar Moreira, o deputado do castelo. O petebista avisa que vai recorrer ao Supremo

Sérgio Moraes: ¿Fui arrancado da relatoria. O meu mandado de segurança está pronto desde segunda-feira¿ O deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) estava nervoso. Segurava uma caneta, fazia rabiscos num papel em branco, mexia no copo de água e batia com os dedos na bancada do plenário do Conselho de Ética, tentando acompanhar o ritmo acelerado da fala do presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA).

O petebista sabia que seria destituído do cargo de relator do processo contra o colega Edmar Moreira (sem partido-MG). Mas tentou até o último minuto da reunião de ontem segurar-se no posto. Levou um séquito de correligionários para defender sua continuidade no trabalho. Até o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), apareceu e fez um discurso inflamado em favor de Moraes. O parlamentar gaúcho e seus colegas tornaram a sessão do Conselho num libelo contra a imprensa.

¿Tentar me tirar é ilegal. Não podemos ficar de joelhos. Me retirar significa que estamos todos, esse Conselho e a Casa, de joelhos para essa imprensa¿, atacou Moraes na última tentativa de brigar pelo cargo. Num ato de desespero, pediu desculpas seis vezes e perdão, uma, por ter dito que se lixava para a opinião pública. ¿Peço desculpas, mas não retiro o que disse.¿ Foi em vão, numa canetada José Carlos Araújo encerrou a reunião destituindo Moraes da relatoria e nomeando Nazareno Fonteles (PT-PI) para o cargo.

¿Fui arrancado da relatoria¿, afirmou depois do fato consumado e anunciou que não desistirá de relatar o processo contra Edmar. Vai bater na porta do Supremo Tribunal Federal (STF) em busca de redenção. ¿O meu mandado de segurança está pronto desde segunda-feira¿, sustentou.

Antes da sessão, Moraes relutou em cumprimentar Araújo. Ao fim, já nos corredores e sem câmeras e fotógrafos por perto, foi tirar satisfação. Disse que não poderia ter sido retirado da relatoria à força. O presidente foi direto: ¿Fiz isso para te preservar¿.

O petebista gaúcho saiu da relatoria por conta da repercussão dos comentários sobre a opinião pública e por ter antecipado o desejo de arquivar a denúncia contra Moreira. O deputado do castelo usou R$ 230,6 mil da verba indenizatória entre 2007 e 2008 para tentar sanear as finanças das próprias empresas de segurança privada: Ronda e Itatiaia. Edmar Moreira alega que precisa da escolta. O problema é que, segundo investigação da Corregedoria da Câmara, não há provas de que o serviço de fato foi prestado. Como as notas fiscais apresentadas eram sequenciais, a suspeita maior é que as duas firmas não tinham outro cliente.

Canetada O pedido de saída de Sérgio Moraes da relatoria foi formalizado pelo DEM, partido que já teve Moreira no quadro de filiados, e pelo PSol. José Carlos Araújo acabou optando pela destituição na canetada amparado por parecer técnico elaborado pela assessoria da Casa, em cima das normas do Conselho de Ética. Até o início da reunião de ontem, Araújo estava disposto a colocar em votação o pedido de substituição. Mas como a sessão acabou invadida por deputados do PTB em defesa do correligionário, o presidente achou por bem decidir sozinho, temendo que acabasse derrotado caso levasse ao voto.

Araújo até tentou uma solução negociada. ¿Faço um apelo para o senhor, deputado Sérgio Moraes, que peça o afastamento. Vai ser melhor para este Conselho. Sua posição está insustentável¿, disse. A resposta do petebista foi um seco ¿não posso¿.

Alguns deputados quiseram uma saída consensual, como Abelardo Camarinha (PSB-SP) e Paulo Piau (PMDB-MG). ¿Hoje não pode ter vencedores, nem vencidos¿, disse o deputado paulista. Alguns integrantes do Conselho haviam demonstrado estar satisfeitos com o pedido de desculpas de Moraes. A queda de braço entre Moraes e o presidente do colegiado pode dar um novo fôlego a Edmar Moreira, que pode alegar na Justiça que está sendo perseguido. Não é por menos que ele trabalhou nos bastidores para a manutenção do petebista na relatoria.