Título: Lula deixa claro querer Dilma em 2010
Autor: Vasconcelos, Adriana ; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 12/06/2008, Economia, p. 26

Na avaliação do Planalto, Denise não conseguiu avançar nas denúncias

Chico de Gois e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. No dia em que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi o assunto principal no Congresso, enfrentando ataques da ex-diretora da Anac Denise Abreu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma indicação clara de que defende sua principal auxiliar como a candidata do PT para a sucessão presidencial de 2010. A declaração foi feita em almoço no Palácio da Alvorada com o governador do Rio, Sérgio Cabral; o ministro do Esporte, Orlando Silva; e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, para tratar da candidatura do Rio à sede das Olimpíadas de 2016.

Segundo participantes do almoço, Lula teria dito que "ela é o nome do PT para 2010". Sobre as acusações de Denise de que a Casa Civil teria pressionado por um desfecho rápido no caso Varig, Lula teria dito que as acusações não faziam sentido:

- Ela (Denise) era uma pessoa muito criticada num momento difícil, e agora tentam mostrá-la como heroína.

Após o depoimento, integrantes do núcleo do governo respiraram aliviados. A avaliação do Planalto foi que ela não avançou nas denúncias. Segundo um ministro, Denise criou um anticlímax, pois, embora tenha prometido documentos e provas, não apresentou nada concreto.

Para o grupo de articulação política, ao contrário do que sustenta a oposição, perde força a tentativa de se criar uma CPI. Um assessor de Lula afirmou que até o argumento de que seria necessário convocar Dilma enfraqueceu.

- O depoimento de Denise Abreu não acrescentou absolutamente nada. Fica clara a tentativa de se criar um pseudo-escândalo - avaliou o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Temia-se no governo que Denise fizesse uma relação direta entre o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, e o lobby no Planalto no caso Varig. Por isso, os senadores da base governista evitaram o tema. Para o Planalto, o que mais enfraqueceu o depoimento foi o fato de Denise ter votado duas vezes em sintonia com todos os diretores da Anac pela regularização da VarigLog.

- Ela diz que houve pressão, mas ao mesmo tempo teve autonomia nas suas funções - sustentou o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR).

- Sobrou uma pergunta que não quer calar: por que trazer uma mala tão pesada de documentos sem nenhuma prova de que houve pressão do governo? - ironizou a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC).