Título: Para oposição, depoimento fornece elementos para abertura de cpi
Autor: Vasconcelos, Adriana ; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 12/06/2008, Economia, p. 26

BRASÍLIA. A oposição aproveitou o depoimento da ex-diretora de Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu para tentar caracterizar o tráfico de influência não só da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, como do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula, no processo de venda da Varig. A avaliação de vários tucanos e democratas é que já há elementos suficientes para se propor a criação de uma CPI. Para os governistas, porém, não só não ficou claro o tráfico de influência, como Denise não apresentou provas.

¿ Atingir o presidente Lula é o sonho de consumo da oposição. Faz quatro anos que vivencio isso. Eles só pensam numa coisa: derrubar, derrubar, derrubar. Mas o fato é que mesmo com uma mala tão grande, ela (Denise) não apresentou um papelzinho que comprove o tráfico de influência da ministra Dilma ou do Roberto Teixeira ¿ disse a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC).

A oposição ainda não chegou a um consenso sobre o momento mais oportuno da instalação de uma CPI, se agora ou depois das eleições municipais.

¿ É caso de CPI, mas ela não é viável agora ¿ ponderou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

¿ Adiar para o fim do ano é matar o caso ¿ contestou Demóstenes Torres (DEM-GO).

Os governistas chegaram municiados por um roteiro de sete páginas, tentando mostrar que a venda da Varig teve respaldo da Justiça. Tentaram desqualificar Denise, questionando por que ela não denunciou antes ¿ na CPI do Apagão Aéreo, em agosto ¿ e aprovou a operação.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) levantou suspeita sobre a atuação de Denise, lendo documentos do Ministério Público Federal do Rio que sustentam que a Anac trabalhou contra a recuperação da Varig.

Jucá: `Foi feito um esforço, mas dentro da legalidade¿

Já a oposição, com a ajuda de Powerpoint, questionou a diferença de US$296 milhões entre a primeira e a segunda operação de venda da Varig, e a rejeição de uma suposta oferta de compra de US$738 milhões da TAM ¿ negada pela empresa ¿, acima dos US$320 milhões pagos pela Gol.

¿ O curioso é que por trás de todas as fases dessa operação de venda da Varig está uma figura bonachona, simpática e rosada chamada Roberto Teixeira, uma espécie de Rei Midas. Tudo que ele toca vira ouro ¿ provocou Virgílio.

Quando o tucano criticou o perdão da dívidas de R$7 bilhões da Varig durante o processo de venda, o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), lembrou que Virgílio foi o autor da emenda à Lei de Falências, que teria beneficiado a recuperação judicial da Varig, permitindo que não houvesse a sucessão das dívidas tributárias e trabalhistas aos novos donos.

¿ A oposição quer CPI? Só se for para investigar essa emenda. Ficou claro que não houve pressão, mas cobrança por parte do governo, porque ninguém queria que a empresa parasse de voar. Além disso, a própria Denise Abreu deixou claro que não recebeu ordem de ninguém, até porque tinha mandato e autonomia para agir como diretora da Anac ¿ avaliou Jucá.

Ele admitiu que o governo foi ativo no episódio:

¿ O governo queria que a Varig não parasse, o Congresso queria, a torcida do Flamengo queria. Foi feito um esforço, mas dentro da legalidade. A Casa Civil arbitrou uma briga jurídica para que a VarigLog pudesse, dentro da legislação, comprar a Varig. Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: Economia Tamanho: 627 palavras Edição: 2 Página: 26 Coluna: Seção: Caderno: Primeiro Caderno