Título: O vice não é um adversário. É um inimigo
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 12/06/2008, O País, p. 8

Governadora gaúcha diz que denúncias de corrupção são apuradas e que pedido de impeachment tem motivação eleitoral

PORTO ALEGRE. Envolvida numa crise política que já derrubou três secretários estaduais, a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), não vê base para o pedido de impeachment apresentado pelo PSOL anteontem, a não ser a motivação eleitoral.

- Não há embasamento. É só olhar para ver baseado em que o PSOL pediu: quer tirar a governadora, o vice, e fazer nova eleição. É um movimento político em período eleitoral.

A governadora diz que por trás de todos os problemas enfrentados desde fevereiro, quando a Assembléia Legislativa instalou a CPI do Detran, há uma articulação do vice Paulo Feijó (DEM) com o PT.

- O vice não é um adversário político, é um inimigo.

Yeda, que desde o início da campanha não se entende com o vice, afirmou que desde o ano passado há rumores de que Feijó quer o seu posto. Ela tem evitado viagens ao exterior para não deixá-lo no comando:

- Ele é um vice do PT. Para o PT, nada melhor do que um ambiente de radicalização política.

Yeda sustenta que as denúncias de corrupção foram apuradas, os responsáveis demitidos e as empresas públicas citadas pelo ex-chefe da Casa Civil Cézar Busatto como fonte de financiamento de campanha eleitoral - Detran, Daer e Banrisul - são mantidas sob auditoria.

- Se existia (desvio), eu não sei, mas no meu governo não deixei existir. Toda vez que houve no meu governo denúncia fundamentada, afastei quem estava sob denúncia. Quero esta investigação, tanto que atravessei a rua para falar com o Ministério Público. Mas é preciso rapidez, senão o povo não acredita nas instituições, e os oportunistas usam como querem.

"CPI virou CPI contra o governo", diz Yeda

Yeda está sob fogo cruzado desde novembro, quando a Operação Rodin, da Polícia Federal, desvendou um esquema que desviou cerca de R$44 milhões do Detran entre 2003 e 2007. Com a instalação da CPI do Detran, começaram a aparecer diálogos envolvendo secretários com a quadrilha. Culminou com a divulgação, na última sexta-feira, pelo vice Paulo Feijó (DEM), de um diálogo dele com o então chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, que admitia o uso de estatais para financiamento das campanhas eleitorais. Busatto deixou o governo.

- Pela primeira vez, aqui se estabeleceu o embate PT x PSDB. Antes o era PT x PMDB. As reações foram as mais diversas, mas realmente se transformaram em ataques ao governo quando a Assembléia criou a CPI do Detran. Esta CPI juntou de um modo inédito o PT e o vice-governador. E a CPI virou uma CPI contra o governo.

Para Yeda, há uma crise ética nas relações políticas no Rio Grande do Sul, porque os partidos estão fragmentados e há desconfiança:

- Se a desconfiança é a regra, existe uma crise ética.

Yeda diz não se julgar vítima de machismo, mas considera que no dia-a-dia da política o poder é masculino:

- É uma coisa esquisita no mundo do poder. Há esse preconceito: quando uma voz de mulher fala "cuidado com o perigo" tem de falar grosso. É um jeito diferente de fazer. Eu faço do jeito feminino.

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