Título: Lula reúne aliados para tentar pacto eleitoral
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 17/06/2008, O País, p. 5

Presidente quer unificar PT, PCdoB, PDT e PSB em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Manaus

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Diante do clima de animosidade entre o PT e seus tradicionais aliados na composição dos palanques para as eleições municipais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu interferir pessoalmente para tentar pacificar os partidos, como informou Ricardo Noblat em sua coluna ontem no Globo e no Globo Online. Lula planeja reunir hoje à noite os presidentes de PSB, PCdoB e PDT - aliados históricos do PT - para uma última tentativa de pacto em pelo menos quatro capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Manaus. Mas os próprios aliados temem que a intervenção tenha chegado tarde demais.

Lula tem reconhecido que o processo de escolha das candidaturas nas grandes cidades foi conduzido de maneira equivocada e já produziu seqüelas. Nas últimas semanas, ele tem ouvido dos aliados muitas queixas do que eles chamam de "projeto hegemônico" do PT, que não abre mão nem mesmo de candidaturas fracas, como a de Alessandro Molon, no Rio.

O PT deverá lançar candidatos em pelo menos 20 capitais. Terá o apoio do PCdoB em cinco delas, do PSB em seis, e do PMDB em quatro. Em compensação, os petistas só manifestaram apoio a dois candidatos do PSB, dois do PCdoB e apenas a um do PMDB. O exemplo mais citado na base é a dificuldade do PT em abrir mão da candidatura de Molon em favor da ex-deputada Jandira Feghali, do PCdoB.

- A grande dificuldade é que o PT não abre mão nunca. Por isso é muito difícil negociar - observou Renildo Calheiros (PE), líder do PCdoB na Câmara.

PSB não aceita veto petista à aliança com PSDB

No PSB, o maior desconforto é em relação ao veto da direção nacional do PT ao apoio que o PSDB do governador Aécio Neves quer dar ao candidato socialista Márcio Lacerda, em Belo Horizonte. Em entrevista no último fim de semana ao "Jornal do Brasil", o próprio Lula criticou o comportamento da cúpula petista em relação a disputa na capital mineira.

O presidente advertiu que, na política, quando um partido cria estigmas, começa a perder. E fez um apelo para que o PT recuasse em relação à capital mineira, dando um sinal claro de seu interesse em estabelecer um entendimento com seus aliados.

- Acho que ainda é possível reverter algumas situações. Se estivermos separados, o risco de todos perdermos é muito maior - pondera o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), da executiva nacional.

Como conseqüência do fracionamento dos palanques, Lula pode ficar engessado até onde teria condições de atuar de forma mais aberta, caso da candidatura da petista Marta Suplicy em São Paulo.

- Vamos ouvir o presidente, mas não poderemos tomar nenhuma atitude sem ouvirmos as lideranças locais. Em vários municípios as negociações já estão muito adiantadas - advertiu o presidente em exercício do PDT, deputado Vieira da Cunha (RS).

Em São Paulo, a negociação deve ser conjunta com o Bloquinho (PDT, PSB e PCdoB). Os três partidos já reiteraram a unidade em torno de um candidato próprio, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A nota foi divulgada um dia depois de Lula ter feito um apelo a Aldo por entendimento. Lula defendeu uma posição harmônica nas principais capitais, mas não foi bem sucedido nessa primeira conversa.

- O PDT tem tido sérios problemas de relacionamento com o PT nos grandes centros urbanos, porque não temos vocação para sermos apêndice. As alianças com o PT só têm uma via - diz Vieira da Cunha.