Título: Eliseu em choque com a mìdia
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 17/06/2008, Economia, p. 30

Troca de âncora de telejornal por amiga de presidente reacende polêmica PARIS. Não é um fim glorioso para este homem de 60 anos de voz fanhosa que os franceses imaginavam que nunca sairia ¿ muito menos, cairia ¿ da tela. Pois a demissão surpresa de Patrick Poivre d¿Arvor, o mais famoso âncora da televisão francesa, apresentador do jornal das 20h da TF1 há 21 anos, foi uma queda brutal. E com ingredientes de novela: intriga, sexo, loura ameaçadora e até o presidente da República, Nicolas Sarkozy, metido no meio.

Rumores correm na capital de que a queda de PPDA ¿ como é conhecido Patrick Poivre d¿Arvor ¿ foi mais uma obra de Sarkozy, cujas interferências na mídia e relação com os donos de jornais e revistas na França são notórias. No lugar dele vai entrar a partir de setembro a louríssima Laurence Ferrari, de 41 anos. Ela é uma estrela em ascensão na TF1, com reputação de boa jornalista.

Rumores de caso mancham currículo de Ferrari

Mas Ferrari tem uma mancha no currículo: teria tido um caso com Sarkozy, segundo rumores. Foi vista jantando com o então recém-divorciado presidente em novembro. Sarkozy se casou dois meses depois com a bela ex-modelo Carla Bruni, calando as más linguas. Mas, segundo a imprensa francesa, Sarkozy teria pressionado seu amigo bilionário Martin Bouygues, dono da TF1, para promover Ferrari. ¿As provas ? Não há. As suspeitas? Há uma legião¿, resumiu o jornal ¿Le Monde¿.

Patrick Poivre d¿Arvor revelou que já vinha escutando rumores da intromissão de Sarkozy no rearranjo da TF1, mas não diz não ter acreditado:

¿ Francamente, eu não poderia imaginar que o chefe de Estado metesse o seu nariz neste tipo de coisa ¿ disse.

E alfinetou: ¿Esta decisão é política¿, disse ao ¿Le Monde¿, afirmando que a direção da TF1 não deu qualquer motivo para sua saída.

PPDA acha que foi castigado por ter se oposto, em novembro de 2007, à nomeação como diretor de informação da TF1 de Nicolas Beytout, ex-diretor da redação do jornal ¿Le Figaro¿ (de direita, alinhado ao governo), e amigo de Nicolas Sarkozy. Alguns jornalistas acham que o presidente nunca perdoou PPDA quando, numa entrevista, o âncora perguntou se, ao participar pela primeira vez de uma reunião da G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia), Sarkozy não se sentia como um ¿garotinho que entra na sala dos grandes¿. Sarkozy, que é sensível à sua baixa estatura, não teria gostado.

As intromissões de Sarkozy na mídia são conhecidas. Mal foi eleito presidente, ele pediu ao dono da TF1 para empregar o diretor-adjunto de sua campanha eleitoral, Laurent Solly, para a direção estratégica da TF1, o que foi feito.

PPDA já vinha vivendo seu inferno astral

Mas PPDA não está nos seus melhores dias. A audiência do jornal vem caindo nos últimos 12 meses. Ele foi chamado de preguiçoso, arrogante e favorável ao discurso do centro-direita, num livro escrito anonimamente por jornalistas da TF1. Em dezembro de 1991, foi flagrado forjando uma falsa entrevista exclusiva com o líder cubano Fidel Castro. Em 1996, foi acusado de ter recebido favores de um empresário cujo genro, um político, aparecia regularmente no seu programa. (Deborah Berlinck)