Título: Greve de 24 horas pela semana de 35
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 17/06/2008, Economia, p. 30

Nicolas Sarkozy, candidato, foi claro: a França precisa trabalhar mais. Mas no poder ele não teve coragem de dizer que acabaria com a lei que limita em 35 horas por semana o trabalho, como esperam muitos de seus eleitores. No lugar, optou por uma dupla linguagem: a França vai manter a lei, disse o presidente, mas vai ¿flexibilizá-la¿. O que, na prática, quer dizer: o governo vai abrir o caminho para que a lei não seja cumprida.

É contra o projeto de lei que o governo apresentará amanhã na reunião do Conselho de Ministros, ¿flexibilizando¿ a lei das 35 horas, que sindicatos saem às ruas hoje. Pelo projeto, o número de horas de trabalho e compensações vai ser decido em negociações com trabalhadores dentro de cada empresa.

O primeiro-ministro François Fillon garantiu em entrevista à TV francesa no domingo que os trabalhadores que quiserem se limitar a trabalhar 35 horas por semana estarão garantidos por lei. A ¿flexibilização¿, explicou Fillon, é apenas para permitir que os que queiram trabalhar mais possam fazê-lo. Mas os sindicatos denunciam isso como ¿mentira¿, e estão convocando um dia de greve hoje contra o projeto.

¿ Eles (o governo) mentem quando afirmam que os empregados poderão conservar as 35 horas semanais de trabalho ¿ denunciou Bernard Thibault, da CGT, para quem o governo quer uma ¿revanche ideológica¿.

Desta vez, entretanto, nenhum dos líderes sindicais aventurou-se a fazer uma estimativa do número de pessoas que esperam nas ruas. A última greve, de 22 de maio, contra a reforma das aposentadorias mobilizou 700 mil pessoas, segundo os organizadores, ou apenas 300 mil, segundo a polícia. Isto é: não paralisou a França, como esperavam os sindicatos.

A lei das 35 horas foi introduzida em 2002 pelos socialistas, com a promessa de assegurar o ¿pleno emprego¿ e uma ¿sociedade mais humana¿. A lei não conseguiu nenhum dos dois e acabou engessando o mercado de trabalho, como disse o próprio Sarkozy durante a campanha. Apesar de a taxa de desemprego na França estar caindo, o país tem um índice acima da média européia: 7,5% no ano passado. Desde 2007, a lei vem sendo flexibilizada. As empresas foram liberadas de serem penalizadas com mais impostos e encargos sociais quando faziam seus empregados trabalharem mais de 35 horas.

Outros protestos ocorrerão amanhã

Sarkozy, candidato, culpou a lei pelo baixo crescimento francês e por outros problemas econômicos. Mas no mês passado disse que não acabará com a lei.

¿ Na França é difícil voltar atrás em vantagens sociais, e as sondagens mostram que os trabalhadores que estão nas 35 horas por semana defendem isso ¿ disse Stephane Rozes, diretor do instituto de sondagens CSA.

O ¿dia de ação¿, como os sindicatos estão chamando a contestação de hoje, não deverá paralisar o transporte. É dia de exame para estudantes candidatos ao bacharelado na França e sindicalistas resolveram poupá-los.

Opositores do projeto de reforma de aposentadorias ¿ que vai obrigar franceses a cotizarem 41 anos para que se recebam pensão integral ¿ também sairão às ruas. Outros protestos em outras áreas estão marcados para amanhã.