Título: Biologia da homessexualidade
Autor:
Fonte: O Globo, 17/06/2008, O Globo, p. 32

Cérebro dos gays é similar ao do sexo oposto revelam imagens inéditas O cérebro de homossexuais é similar ao de pessoas do sexo oposto, revelou um estudo publicado hoje pela ¿Proceedings of the National Academy of Sciences¿ (PNAS). Dito de outra forma: o cérebro de um homem gay é parecido com o de uma mulher, enquanto o de uma lésbica apresenta características semelhantes às de um homem hetero. Os dados foram obtidos a partir de exames de ressonância magnética e são considerados as provas mais fortes apresentadas até hoje de que a orientação sexual não é uma opção, mas um traço biológico.

¿ São os registros mais significativos já obtidos até hoje de diferenças cerebrais entre homossexuais e heterossexuais ¿ afirmou Ivanka Savic, do Departamento de Neurociências do Instituto Karolinska, em Estocolmo, co-autora do estudo.

Estudo foi realizado com 90 pessoas

Ivanka e Per Lindström, do mesmo instituto, constataram que o formato e algumas áreas de ativação do cérebro estariam relacionados à orientação sexual. Nos homens hetero e nas mulheres homossexuais, o hemisfério direito é maior que o esquerdo. Essa discrepância não ocorre entre os cérebros de homens gays e de mulheres hetero, cujos hemisférios seriam mais proporcionais. A decisão de trabalhar com esse tipo de parâmetro tinha por objetivo obter dados já determinados no nascimento, ou seja, que não teriam influência de fatores culturais.

O estudo feito com 90 homens e mulheres (homossexuais e heterossexuais) revelou também similaridades ligadas ao comportamento emocional. Ao medirem o fluxo sangüíneo para uma região cerebral chamada amígdala, os cientistas constataram que homossexuais masculinos e mulheres hetero apresentam algumas características comuns nessa área, associada ao medo e à agressividade. A mesma simetria foi constatada entre as lésbicas e os homens hetero. O padrão se repetiu quando os cientistas observaram a relação da amígdala com outras regiões do cérebro relacionadas à ansiedade e à depressão.

Essa constatação, segundo Ivanka, é significativa porque coincide com outros estudos que mostram que as mulheres são três vezes mais suscetíveis que os homens a sofrerem de depressão. Entre os homens gays, o problema também aparece em percentuais mais elevados, mas, como a própria pesquisadora aponta, é difícil dizer se isso deve ser creditado à biologia, à homofobia ou, simplesmente, à sensação de ¿ser diferente¿.

¿O resultado das observações não pode ser atribuído diretamente às formas de percepção da realidade ou a aspectos culturais e ambientais¿, explicaram os cientistas no estudo. ¿Mas continua a ser uma questão em aberto saber se essas características surgem durante o desenvolvimento fetal ou o pós-natal.¿

De qualquer forma, o mais provável, segundo Ivanka, é que as diferenças sejam forjadas no útero ou, no máximo, na mais tenra infância. Os pesquisadores acrescentaram que o estudo não consegue determinar se as características são herdadas ou se decorrentes, por exemplo, da exposição a hormônios, como a testosterona no útero.

Falta estudar o cérebro de bebês

Mas isso é algo que pretendem pôr a prova em um novo estudo a ser realizado com bebês. Obtendo imagens dos cérebros de recém-nascidos será possível avaliar se a presença (ou ausência) de tais características determinarão a opção sexual futura.

¿Essas observações nos motivam a realizar pesquisas mais amplas com grupos de estudo maiores e a buscar uma melhor compreensão da neurobiologia da homossexualidade¿, escreveram.

Vários estudos já analisaram o papel de fatores genéticos e culturais na orientação sexual, sem nunca se conseguir chegar a uma conclusão sobre quais seriam preponderantes. Muitos cientistas defendem a idéia de que características biológicas e o ambiente teriam pesos similares na determinação da orientação sexual.