Título: Lula apresenta mãe do PAC para intelectuais
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 17/06/2008, O País, p. 9
Em encontro com pensadores de esquerda, Dilma tem que dar explicações sobre Varig e dossiê sobre gastos tucanos
Adauri Antunes Barbosa
SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu ontem em São Paulo com um grupo de cerca de 40 intelectuais considerados de esquerda para conversar sobre seu governo, ouvir cobranças e dar explicações para assuntos como as recentes denúncias envolvendo o governo, sobretudo no caso da compra da Varig. Ao lado de Lula, uma das estrelas do encontro foi a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, possível candidata à sucessão do presidente. Dilma também acabou tendo de se explicar sobre as denúncias da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu. Lula falou sobre nove temas e ouviu 14 intervenções, a maioria abordando questões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e educação.
- A ministra Dilma retomou os argumentos que ela tem colocado publicamente em relação à transparência do que foi o contrato com a Varig, o acompanhamento judicial com relação a isso. (Ela) retomou a idéia de que os arquivos obviamente se transformaram em documento público a partir de um membro da oposição. Ninguém colocou a questão a ela, mas ela fez questão de tornar transparente o seu comportamento, mencionando isso - contou o sociólogo Emir Sader, um dos quatro participantes que falaram sobre o encontro.
Lula: preocupado com continuidade do governo
Conforme o relato da socióloga Maria Vitória Benevides, o presidente manifestou raiva diante dos casos que envolvem desvio de recursos públicos e afirmou que em 90% dos casos as denúncias partiram do próprio governo, da Controladoria geral da União (CGU). Lula disse ao grupo que não vai disputar um terceiro mandato, mas afirmou que está preocupado com a continuidade das políticas públicas criadas em seu governo.
Na reunião, Dilma reafirmou que a atitude do governo no episódio da venda da Varig se restringiu às determinações do Judiciário. Os intelectuais fizeram cobranças sobre reforma política, política externa e escândalos no país. Segundo os intelectuais, o presidente disse que o depoimento da ex-diretora da Anac foi um desperdício de tempo dos senadores, mais preocupados em criar um escândalo.
O encontro foi realizado no escritório regional da Presidência da República, na Avenida Paulista. O relato da reunião foi feito aos jornalistas pelos sociólogos Maria Victoria Benevides e Emir Sader, pelo educador Candido Mendes e pelo cientista político Juarez Guimarães.
Também participaram do encontro os ministros Fernando Haddad, da Educação; Luiz Dulci, da Secretaria Geral de Governo; e Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos. Dilma falou ainda do dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Pelo relato, Dilma manifestou preocupação com as agências reguladoras. Segundo Maria Victória, ela classificou as agências como problemáticas e disse que não podem ser absorvidas pelo setor público, mas nem por isso devem atender a interesses privados. Outro assunto discutido na reunião foi a criação de um fundo para a educação com parte dos royalties das novas reservas de petróleo. Os intelectuais pediram que o governo implementasse a reforma política.
- Lula deixou claro que a reforma política não é (responsabilidade) do Executivo, mas da sociedade e dos partidos, e chegou a dizer que gostaria que o PT assumisse uma posição mais agressiva em favor da reforma política - resumiu a socióloga Maria Victoria.
Política externa também foi tema do encontro
Lula disse ainda que o combate à inflação não será baseado em medidas precipitadas.
Falando sobre a política externa do país, conforme contou Emir Sader, Lula justificou sua proximidade com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e afirmou que não pode impor ao governo do Paraguai soluções não negociadas sobre a Hidrelétrica de Itaipu.
- Foi uma resposta a uma cobrança em relação à atitude do Brasil com Itaipu, e o presidente falou que não será renegociado o contrato. (Lula) retomou os termos, mas (garantiu) que o Brasil não trabalhará para enfraquecer o governo do (presidente paraguaio Fernando) Lugo, um fenômeno extraordinário na história do Paraguai - relatou Emir Sader.
Segunda reunião com intelectuais desde que tomou posse como presidente, a terceira se for contado um encontro quando Lula ainda era candidato ao primeiro mandato, o encontro teve quatro horas de duração, sem intervalo. Entre os cerca de 40 participantes estavam o professor Antonio Cândido, os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Paul Singer, os escritores Moacyr Scliar, Fernando Morais e Luis Fernando Verissimo, o teólogo Leonardo Boff, o padre José Oscar Beozzo, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.