Título: No ar, risco de um incidente a cada seis meses
Autor: Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 17/06/2008, O País, p. 11
Diretor do Decea admite que nível de inglês dos controladores precisa melhorar, mas diz que problema não é grave
Flávio Tabak
O espaço aéreo brasileiro pode ter um incidente a cada seis meses provocado pela falha na comunicação em inglês dos controladores de vôo com pilotos estrangeiros. O diagnóstico é do diretor-geral do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), tenente-brigadeiro Ramon Borges Cardoso. Em entrevista ontem na sede do órgão, no Rio, Cardoso afirmou, porém, que o risco é baixo:
- Há possibilidade de um incidente a cada seis meses, o que representa 0,0002% de probabilidade. Não temos registro no Brasil em que a falta de comunicação em inglês comprometeu. Risco existe em qualquer local, pode ser de barco, trem, carro. Na aviação essa chance é ínfima.
Prova oral não será exigida para controladores
Apesar de admitir, em relatório enviado à Organização Internacional de Aviação Civil (Oaci), que a falta de conhecimento do idioma pode provocar acidentes, como revelou reportagem do GLOBO domingo passado, o diretor do Decea disse que já tomou medidas para facilitar a comunicação. A cada três controladores aéreos que operam vôos internacionais, há a presença um com o nível 4 de inglês - numa escala de 1 a 6 -, no qual é possível trocar informações além de dados técnicos, principalmente sobre condições meteorológicas ou em situações de perigo. Cardoso afirmou também que ocorreram, entre 2003 e 2007, dez incidentes provocados por ruídos de comunicação, mas não soube precisar se foram graves ou não.
Dos 3.052 controladores brasileiros, cerca de 1.500 operam com vôos internacionais. Destes, segundo Cardoso, apenas 350 (23%) têm nível 4, 5 ou 6. Todos os outros têm nível 3, que não passa da troca básica de dados.
- Nem todos os pilotos e controladores estão no nível 4. Estamos tomando medidas para que o tráfego flua normalmente, como a presença de supervisores com nível 4 ou acima para auxiliar em conversas que fujam da rotina. Mas dos 190 associados da Oaci, apenas 52 atingiram a totalidade dos controladores do nível 4. Vamos chegar nessa meta até 2011, como determina a Oaci.
A falta de prova oral na contratação dos profissionais, que solicita apenas o preenchimento de questões de múltipla escolha, não é considerada um problema para o diretor do Decea. Segundo ele, os controladores recebem treinamento interno de inglês técnico. Cardoso afirmou que a prova não é exigida pela Icao.
A partir de setembro, todos os controladores trarão na carteira profissional o nível de inglês. Até 2011, 100% dos profissionais deverão ter o nível 4. A recomendação da Icao, porém, já pede para que os países se adaptem às exigências desde 2003, mas o nível intermediário do idioma só passou a ser exigido no ano passado. Sobre essa demora, Cardoso afirmou que o Brasil não foi último país a pedir inglês nas provas:
- Houve um atraso do mundo todo. Entre os países que não têm o nível 4, estão Alemanha, Itália, Rússia, Bélgica, Bulgária e Índia.