Título: Sem-terra voltam a bloquear linha férrea da Vale
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Fonte: O Globo, 13/06/2008, O País, p. 11

Justiça determina reintegração de posse em MG, e grupo deixa local; no Rio, ato acontece em frente à sede da empresa

RIO, BELO HORIZONTE e BRASÍLIA. Cerca de 600 integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST), da Via Campesina e do Movimento de Atingidos por Barragens bloquearam novamente uma linha férrea da Vale, ontem, em Minas, e obrigaram dois trens de passageiros a parar. Segundo a empresa, cerca de 30 trens deixaram de circular. A ferrovia só foi desbloqueada à tarde, após o juiz da comarca de Governador Valadares conceder liminar de reintegração de posse do trecho ferroviário.

A Estrada de Ferro Vitória-Minas foi paralisada, na zona rural de Governador Valadares, no leste de Minas, por volta das 6h. Por causa da manifestação, o trem de passageiros que ia de Belo Horizonte para Vitória foi obrigado a parar em Ipatinga. O outro, que fazia a linha Vitória-Belo Horizonte, parou em Governador Valadares, onde os passageiros tiveram que desembarcar.

Ao ser informada do novo bloqueio, a Vale afirmou que se tratava da 35ª invasão de instalação da empresa e que não iria negociar, mas tomar medidas legais contra os manifestantes. De acordo com a companhia, a paralisação prejudicou cerca de mil passageiros. Em nota, a Vale classificou a ocupação da ferrovia como "criminosa".

A determinação da Justiça foi levada aos manifestantes por um oficial de justiça protegido por policiais. Ele chegou ao local no início da tarde. Assim que foram notificados da ordem de despejo, os ocupantes prometeram resistir, mas depois de uma avaliação dos líderes decidiram deixar o local, para evitar confronto com a polícia.

No Rio, cerca de 300 manifestantes de MST, Via Campesina, Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Petróleo (Sindipetro) e de outros movimentos sociais fizeram um ato em frente à sede da Vale, no Centro do Rio. Eles protestaram contra a privatização da companhia, ocorrida em 1997, arremessando cascas de banana na porta da empresa, numa referência ao baixo preço do leilão. Não houve enfrentamento ou tentativa de invasão do prédio, que foi cercado por 55 policiais militares.

O protesto começou às 15h na Cinelândia. O grupo seguiu em passeata em direção à Vale por volta das 16h. Depois, os manifestantes foram ao Palácio Capanema, ao lado do sede da empresa, para participar de um ato contra o que chamaram de "privatização do petróleo", em referência aos leilões de blocos petrolíferos. Uma das faixas exibidas no ato condenava a política de "destruição da natureza e exploração de trabalhadores" da Vale.

Grupo protocola documento no Palácio com 13 propostas

Em Brasília, líderes de movimentos sociais que integram a Via Campesina protocolaram ontem no Palácio do Planalto documento com 13 propostas para o campo. A Via Campesina chegou a anunciar que queria um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas só conseguiu protocolar o documento.

As entidades reivindicam a criação de uma empresa estatal de fertilizantes à base de matérias-primas orgânicas e querem também a garantia de preços mínimos e de compras públicas de leite da agricultura familiar. Frei Sérgio Gorgen, do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), disse que as manifestações dos sem-terra continuarão hoje. Ele afirmou que foram realizados protestos em 19 estados.